NOTA 94 - SONHOS DE UMA TEORIA FINAL - de Steven Weinberg
1 - Sentado à minha secretária ou em alguma mesa de café,manipulo expressões matemáticas
e sinto-me como Fausto a brincar com os seus pentagramas antes de Mefistófoles chegar.De vez
em quando abstracções matemáticas,dados experimentais e intuição física unem-se numa teoria
definida sobre partículas,forças e simetrias.
2 - É claro que uma teoria final não acabaria com a pesquisa científica pura,nem mesmo com a
investigação pura em física.(...) Uma teoria final só será final num único sentido - chegará ao fim
uma certa espécie de ciência,a procura antiga daqueles princípios que não podem ser explicados
por princípios mais profundos.
3 - A teoria final pode estar a séculos de distância e pode ser completamente diferente de tudo
aquilo que agora imaginamos.
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O Prof. Steven Weinberg,autor deste livro "Sonhos de Uma Teoria Final" é um dos cientistas mais
distinguidos a nìvel mundial.Físico americano,nascido em Nova Iorque a 03/05/1933,foi galardoado
com o Prémio Nobel da Física em 1979 pelo seu trabalho na unificação de duas das forças fundamentais
da natureza e em 1991 o Presidente dos USA atribui-lhe a National Medal of Science.Para além disso
tem sido distinguido com outros importantes prémios e graus honoríficos. O seu livro anterior "Os Três
Primeiros Minutos",vencedor de vários prémios,é o livro clássico sobre o "Big Bang",a teoria moderna
sobre a origem do Universo.
"Sonhos de Uma Teoria Final" destina-se a leitores sem conhecimento de física ou matemática avançada
e tem por objectivo expor os pontos de debate levantados pela ideia de uma teoria final. O livro está
dividido em três partes: a 1ª - apresenta a ideia de uma teoria final; a 2ª - explica como têm sido feitos os
progressos em direcção a essa teoria final; a 3ª - especula acerca da forma da teoria final e de como a
sua descoberta poderá afectar a humanidade.
Steven Weinberg diz que é com Isaac Newton que o sonho moderno de uma teoria final realmente começa
e chama a atenção para os "avisos" àqueles que agora se atrevem a falar de uma teoria final. Afirma que
"o mais próximo que conseguimos chegar de uma visão unificada da natureza consiste numa descrição
das partículas elementares e sua interacção mútua. E admite sentir algum desconforto em "trabalhar toda
a minha vida num contexto teórico que não é compreendido totalmente".
Diz que a física de partículas elementares é mais fundamental do que outros ramos da física porque está
mais perto do ponto de convergência de todas as nossas setas de explicação. E refere que os físicos
teóricos tendem a desempenhar um de dois papéis: ou são "sábios" ou "mágicos". Os sábios raciocionam
de um modo ordenado acerca dos problemas físicos com base em ideias fundamentais sobre o modo
como a natureza deveria ser. Einstein,por exemplo,ao desenvolver a teoria geral da relatividade,estava
a desempenhar o papel de sábio. Os mágicos "não parecem raciocinar de modo algum,mas sim saltar
sobre todos os passos intermédios em direcção a uma nova descoberta acerca da natureza. Max Planck
foi um mágico ao invertar em 1900 a Teoria da Radiação do Calor e Werner Heisenberg também o foi :
o seu artigo de 1925,que marca o nascimento da mecânica quântica,foi "pura magia".
Afirma que a física evoluiu a partir da filosofia,mas hoje o conhecimento da filosofia não parece ter
utilidade para os físicos,embora o Ocidente deva ter "um orgulho especial" pelo facto de ter dado ao
mundo "a ciência moderna,juntamente com a democracia e a música de contraponto."
Fala do modelo-padrão das partículas elementares e diz que a questão mais importante que ainda
desconhecemos acerca do modelo-padrão é,"o que causa a quebra da simetria electrofraca" e refere
que,de acordo com a visão mais simples geralmente aceite da teoria do Big Bang "existiu um momento
há cerca de 10 ou 20 mil milhões de anos no passado em que a temperatura do universo era infinita."
O problema da hierarquia tem sido o osso mais duro de roer na física teórica e também afirma que
a Teoria das Cordas apareceu como o principal candidato plausìvel para uma teoria final,embora o
entusiasmo tenha arrefecido um pouco. É que "existem milhares de teorias das cordas". Refere-se
à infeliz divisão na comunidade dos físicos: os que trabalham nas teorias das cordas,e os que
trabalham noutras áreas da física.
Em vez de uma teoria final,muitos pensam que encontraremos uma cadeia sem fim de princípios
cada vez mais profundos. É o caso de Karl Popper "o deão dos filósofos modernos da ciência",
que rejeita "a ideia da última explicação". Contudo,para Weinberg,"se a história nos indica alguma
coisa,ela parece-me sugerir que "existe" uma teoria final.É este o palpite do Prof. Steven Weinberg:
"o meu palpite próprio é o de que existe uma teoria final e que somos capazes de descobri-la."
Reconhece que a mecânica quântica não é uma teoria física completa e "ninguém sabe como é
que as galáxias se formaram,ou como é que o mecanismo genético se iniciou,ou como a memória
é guardada no cérebro.E "não é possível que estes problemas sejam afectados pela descoberta
de uma teoria final",embora a descoberta das leis finais da natureza deixasse,no mínimo,menos
espaço na imaginação para crenças irracionais."
"E quanto a Deus ?" - pergunta S.Weinberg no capítulo 11
Qualquer que seja a religião de cada um,é uma metáfora irresistível falar das leis finais da natureza
em termos da mente de Deus,embora o autor sustente que não é um acidente o facto de existirem
regras que governam a matéria.Contudo,toda a nossa experiência através da História da Ciência
aponta em direcção a leis da natureza impessoais e frias.Mas "nunca poderemos ter esperança de
provarmos que nenhum agente sobrenatural balança as escalas em favor de algumas mutações
contra outras" embora " o próprio universo sugere não ter qualquer sentido".Assim,muitos físicos
mantêm uma filiação nominal com a fé dos seus pais,como uma forma de identificação étnica e para
ser utilizada em casamentos e funerais,mas poucos destes físicos parecem prestar alguma atenção
à teologia da sua religião nominal. Por outro lado,"a nossa espécie teve de aprender,ao crescer,que
não estamos a desempenhar um papel principal em nenhum tipo de grande drama cósmico.A dor
de enfrentar a perspectiva da nossa morte e da morte daqueles que amamos leva-nos a acreditar
em crenças que aliviem essa dor. Se somos capazes de ajustar as nossas crenças deste modo,
então por que não fazê-lo ? Não penso,nem por um minuto,que a ciência algum dia fornecerá o
consolo que tem sido oferecido pela religião para enfrentar a morte.
Por fim,o autor aborda a problemática dos Superaceleradores de Partículas,nomeadamente do SSC -
Superacelerador Supercondutor - e diz que "estas máquinas são as sucessoras necessárias a uma
progressão histórica de grandes instrumentos científicos,que se estende desde antes dos actuais
aceleradores de Brookhaven,do CERN,de Desy,do Fermilab,do Kek, e do Slac,até ao ciclotrão de
Lawrence ou ao tubo de raios catódicos de Thomson e,ainda mais atrás,ao espectroscópio de
Frauenhofer e ao telescópio de Galileu."
E conclui : "Quer as leis finais da natureza sejam descobertas,quer não,durante a nossa vida,é para
nós um grande orgulho continuarmos a tradição de investigação da Natureza,de perguntarmos
vezes sem conta por que é ela como é."
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......................................"Sonhos de Uma Teoria Final" de Steven Weinberg,um magnífico livro de
divulgação científica que expõe os pontos do debate levantado pela ideia de uma teoria final,pela
pena de um dos mais consagrados físicos do nosso tempo.