NOTA 90 - O NOSSO HABITAT CÓSMICO - de Martin Rees

1 - Onde quer que vão,os viajantes espaciais terão que enfrentar ambientes hostis.Construir um habitat confortável,quer na Lua ou
em Marte,quer flutuando livremente no espaço,será um empreendimento desencorajador.No entanto,poderia ser feito:as infraestruturas
necessárias poderiam ser previamente instaladas por sondas não tripuladas e por robôs.As matérias primas poderiam ser extraidas e
transformadas no local,e talvez acabasse por ser possível estabelecer aí comunidades não dependentes de abastecimentos da Terra.
Quando houver comunidades autónomas longe da Terra--na Lua,em Marte ou a flutuar livremente no espaço--a nossa espécie tornar-se-á
invulnerável a qualquer desastre global e qualquer potencial que esta possa vir a realizar num futuro de 5 mil milhões de anos,ficará ao 
abrigo da destruição.
2 - Podemos ainda estar perto do "simples começo" de Darwin: se a vida não fôr previamente extinta,os nossos descendentes remotos
virão certamente--nos muitos milhões de anos que temos pela nossa frente--a espalhar-se muito para lá do nosso planeta.Ainda que,neste momento,a vida exista unicamente na Terra,resta-nos tempo suficiente para tornar habitável toda a Galáxia e mesmo locais para lá dela.
A imagem que é mostrada na capa deste livro,é a de um enorme enxame de galáxias a cerca de mil milhões de anos-luz de distância.
(O Nosso Habitat Cósmico,45,23,81)
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MARTIN  REES,o autor deste livro "O Nosso Habitat Cósmico",nasceu em York a 23/6/1942 e é um consagrado cosmologista e astrofísico
britânico.Tem o título nobiliárquico de barão Rees de Ludlow e foi Presidente da Royal Society entre 2005 e 2010.Mestre do Trinity College,
Cambridge,desde 2004,Professor de Cosmologia e Astrofísica da Universidade de Cambridge e Professor visitante da Universidade de
Leicester e do Imperial College London,foi promovido a Astrónomo Real britânico em 1995 e foi designado para a Câmara dos Lordes em
2005 como membro independente(não pertence a nenhum partido) e tem sido agraciado com diversos prémios,entre os quais o  Prémio
Templeton.(wikipedia/martin rees)
........................................... É compreensível e lógico que possa vir a acontecer aquilo que Martin Rees refere na parte inicial deste comentário.Os humanos começaram por ocupar e conhecer a superfície terrestre,espalhando-se por todas as regiões habitáveis.Depois,
conquistaram os mares,construindo navios cada vez maiores e mais sofisticados.Agora,já sabemos voar,construimos aviões grandes e confortáveis e já fomos á Lua várias vezes.É natural que se siga a conquista do espaço,depois de
criadas as condições tecnológicas para tal.Hoje parece quase impossível que isso venha a suceder,mas a situação não é nova.É sempre 
assim.As coisas parecem impossíveis ou muito difíceis quando não existem.Quando começaram a ser construidos os primeiros barcos,
pequenos e rudimentares,se fossemos saber o que pensavam as pessoas de então da conquista dos mares e dos oceanos,por certo que
diriam o mesmo que hoje nós dizemos da conquista do espaço.Mas,é assim mesmo.A vida tem avançado e nada indica que não continue
a avançar.Por isso é uma "utopia realizável" pensar na existência de cidades a flutuar livremente no espaço,a percorrer os quatro cantos
da Via Láctea e aportando aqui e ali para observar mais de perto,planetas e asteróides que surjam no caminho.Assim como também é
possível imaginar a existência de comunidades autónomas,na Lua,em Marte,ou noutro local qualquer do cosmos que tenha condições
para isso. Quando é que isto será possível ? Não nos preocupemos com a data.Criemos as condições tecnológicas que o permitam,
pouco a pouco,um passo de cada vez,e assim iremos lá chegar.Claro que não será no nosso tempo de vida,mas outros irão beneficiar
do nosso trabalho,assim como nós beneficiámos do trabalho dos que nos precederam.
"O Nosso Habitat Cósmico"  está dividido em três partes : na 1ª Parte (Do Big Bang ás Biosferas),Martin Rees fala de estrelas e planetas,
da vida e da inteligência,dos átomos,das galáxias,dos buracos negros e máquinas do tempo;na 2ª Parte (O princípio e o Fim),aborda
como tudo começou,se estamos em desaceleração ou aceleração e qual o futuro longínquo do cosmos;na 3ª Parte (Princípios e conjecturas),
fala do mundo microscópico e das leis e regulamentos do multiverso.
Diz que em vez de nos aproximarmos do " fim da ciência ",é perto do início da nossa demanda cósmica que nos encontramos.Quanto á
existência ou não de vida extra-terrestre " pela minha parte,julgo que o agnosticismo é a unica posição racional nesta matéria". Afirma que
é possivel tirar conclusões acerca do que aconteceu nos 1ºs segundos da história cósmica com 99% de certeza,além de que é possível
fazer o retorno ao Big Bang,cujas características são muito simples de descrever.Mas acrescenta:"...os meus 99% de certeza vão até ao
primeiro segundo-talvez até mesmo ao primeiro milésimo de segundo-mas não muito mais do que isso.
Não sabemos se o nosso Universo é ou não finito,mas é pelo menos muito grande--é uma outra afirmação que faz. Distingue TRÊS ERAS
diferentes na história cósmica : 1ª - o 1º milésimo de segundo; 2ª - do 1º milésimo de segundo até a alguns milhões de anos mais tarde; 3ª - o
universo "recente". E quanto á relação entre cosmologia e religião,não parece ter havido qualquer mudança qualitativa desde o tempo de
Newton e "devemos ser cépticos em relação a qualquer dogma,ou qualquer pessoa ou organização que pretenda ter conseguido de qualquer aspecto profundo da nossa existência mais do que uma visão metafórica e muito incompleta." Afirma que os nossos  descendentes afastados
terão provavelmente um futuro eterno e quando alguns cosmólogos hoje defendem que o universo pode ter surgido " do nada ",diz que esta
linguagem é descuidada:" mesmo reduzido a um ponto ou a um estado quântico,existem aí latentes,partículas e forças:tem francamente
mais conteúdo e estrutura que aquilo a que um filósofo chamaria o " nada ".
Há duas expressões muito usadas em livros populares--"Teoria Final" ou " Teoria de Tudo"--que têm conotações não só arrogantes,mas
também muito enganadoras.E acrescenta que,se alguma vez uma teoria unificada fôr formulada,pode vir a ser o maior triunfo intelectual
de todos os tempos.Contudo,uma teoria desse tipo NÃO representaria o fim dos desafios da ciência.Na realidade,teria um impacto mínimo
sobre a maior parte da ciência--e mesmo da cosmologia.Mesmo que conhecessemos as leis fundamentais,continuariamos a não perceber
a forma como se desenvolveram ao longo dos últimos 13 mil milhões de anos.As interligações e os padrões complexos confundem-nos...
Há 3 grandes FRONTEIRAS na ciência : 1 - o muito "grande" ; 2 - o muito "pequeno" ; 3 - o muito "complexo"  e a natureza alcança o
seu nivel máximo de complexidade na escala intermédia--a escala humana. Fala da possibilidade de existirem pontos no universo em
que a INFLAÇÃO não terminou e surjam novos Big Bangs dentro do mesmo universo,mas prefere a possibilidade de existência do
MULTIVERSO,uma multiplicidade de universos,em espaços desarticulados do nosso. Contudo,"nenhuma destas teorias passa de um
ensaio". Reconhece que um certo grau de " afinação " parece ter sido um pré-requisito da emergência do habitat hospitaleiro em que
vivemos. E de onde veio essa " afinação" ?  Apresenta 3 hipóteses: a) - foi o acaso; b) - foi obra da Providência; c) - é um domínio
favorecido num multiverso muito variado. A  c) - um domínio favorecido num multiverso variado,é a hipótese que o autor prefere,embora,
no estado actual dos nossos conhecimentos,uma preferência deste tipo pouco passe de um palpite,sendo certo também que existem
teorias alternativas que fariam prever a existência de um único universo. E acrescenta." numa teoria,a coerência não basta:tem de haver
razões fortes para que uma tal teoria não seja tomada como mera construção matemática,mas sim como uma teoria que se aplica á
realidade exterior". Por isso,parte da complexidade da natureza pode nunca vir a ser explicada ou compreendida--diz ainda Martin Rees.
Buracos de Minhoca,Máquinas do Tempo,Energia Escura ou Quinta-Essência,a Teoria-M,os Telescópios,os Buracos Negros,Leis ou
Regulamentos Locais,são mais alguns TEMAS que Martin Rees desenvolve neste livro. E fá-lo com a segurança e a autoridade de quem
tem passado a vida no estudo e no ensino da cosmologia e da astrofísica.
............................................................ "O Nosso Habitat Cósmico" , um livro sucinto e brilhante,sobre o actual estado do conhecimento
científico na área da Cosmologia.