NOTA 74 - MAIS RÁPIDO QUE A LUZ - de João Magueijo

1 - A minha ideia era que a velocidade da luz pudesse variar... e tivesse sido muito maior no universo primordial.
2 - Vários acontecimentos têm reforçado nos últimos anos a convicção de que a  VSL  ( variable  speed of light ,
ou velocidade da luz variável ) poderá um dia vir a ser  tão respeitável como a inflação ou a relatividade.
........................................::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::...........................................................
JOÃO  MAGUEIJO  é um cientista português ,natural de Évora,onde nasceu em 1967,físico teórico,especializado no ramo da
cosmologia e autor da teoria VSL - velocidade da luz variável. Licenciou-se em Física na Faculdade de Ciências da Universidade
de Lisboa e mudou-se para Cambridge,em Inglaterra,tendo assegurado uma bolsa da Royal Society,muito prestigiada,que lhe proporcionou
financiamento e segurança,tendo sido investigador no St. Jonh´s College. Aos 11 anos o pai ofereceu-lhe um livro escrito  por Albert Einstein e
Leopold Infeld que influenciou a sua vida futura. A teoria VSL,de que é autor,veio questionar a permissa mais básica por trás da Teoria  da 
Relatividade de Einstein : a de que a velocidade da luz no vácuo é sempre constante,questionando assim o postulado de que a velocidade da
luz é imutável. Actualmente é Professor de Física Teórica no Imperial College de Londres,onde foi durante 3 anos Research Fellow (investigador) da Royal Society. Foi cientista convidado das Universidades da Califórnia em Berkeley e de Princeton,tendo-se doutorado em Física Teórica na Universidade de Cambridge.
" Mais Rápido Que a Luz ", livro que publicou em 2003,com o título original "Faster Than The Speed of Light",e que tem esta 9ª edição portuguesa,de Fev./2013, explica o que é a VSL e quais as consequências que esta teoria pode ter quanto a viagens espaciais,buracos
negros,dilatação do tempo e teoria das cordas,podendo mesmo ser a porta para a teoria da grande unificação que escapou a Einstein.(contra-capa). João Magueijo é também autor do livro " O Grande Inquisidor " e ainda do programa de televisão de divulgação  científica com o título " O Big-Bang de João Magueijo ",que o canal Discovery Scienc já transmitiu várias vezes,fazendo por isso parte de um conjunto de cientistas ,
entre os quais Michio Kaku,Paul Davies e Stephen Hawking,que também participam em programas de divulgação científica.
Como diz Magueijo " para um cientista profissional,era quase loucura propôr  uma solução que pusesse em causa o que é talvez a mais fundamental das leis da física moderna: a invariância da velocidade da luz no vácuo,que é a pedra angular da física,sobre a qual se constroem
todas as teorias cosmológicas modernas,e é a escala pela qual se mede tudo o que existe no universo. Não admira,pois,que as suas ideias
fossem consideradas disparatadas e,até,herejes,por porem em causa a Teoria da Relatividade do grande Einstein. Mas,João Magueijo não se
incomodou,seguiu em frente e não desistiu das suas ideias.Mas,sozinho não avançava.Assim,encontrou um distinto colaborador--o melhor 
cosmólogo de então do Imperial College-- Andy Albrecht , e as suas ideias começaram a ser vistas e analizadas com mais atenção. A sua teoria -- a VSL -- que contradiz ou evita a relatividade e a inflação ,está hoje a ser aplicada a outros problemas e pode deixar de ser apenas
uma mera especulação científica e facultar-nos uma compreensão do Universo mais profunda.
Na 1ª Parte do livro,João Magueijo fala das duas teorias  da relatividade de Einstein: a teoria da relatividade restrita,de 1905; e a teoria da relatividade generalizada,de 1915,e diz que o próprio Einstein chegou a propôr,em 1911,uma teoria da velocidade da luz variável que,contudo,
não tem nada a ver com a que Magueijo apresenta neste livro. Diz Magueijo que  " a teoria da relatividade generalizada,de Einstein,é um monumento á inteligência humana,uma catedral do génio matemático e intuição física profunda e sem ela não existiria a cosmologia moderna.
Refere como heróis da cosmologia,os nomes de Albert Einstein,o astrónomo e advogado americano Edwin Hubble,e o físico e meteriologista 
russo Alexander Friedmann. Fala da diferença entre  Cosmologia e Astronomia. A Cosmologia estuda o universo como um todo;não estuda esta estrela aqui ou aquela galáxia ali.A isso chama-se normalmente Astronomia. E acrescenta: a astronomia trata das árvores;a cosmologia trata da floresta. E diz que " a distância entre galáxias pode aumentar a uma taxa mais rápida que a velocidade da luz,desde que consideremos galáxias suficientemente afastadas para isso"... E acrescenta:"é o próprio espaço que está a mover-se,expandindo-se e fazendo aumentar a distância entre dois pontos quaisquer,á medida que o tempo passa" e "as galáxias limitam-se a assistir á criação de mais e mais espaço entre elas". Descreve a experiência que contraria a física do "senso comum" de Aristóteles,e que o leitor pode fazer aí em casa: a de que corpos mais pesados devem cair mais depressa do que outros mais leves. Quer fazer a experiência ?  Então,pegue numa folha A4 e
deixe-a cair no chão.A folha cái devegar. Pegue num livro do tamanho da folha A4 ou maior e deixe-o cair no chão.O livro cái depressa. Mas,
agora ponha a folha A4 sobre o livro e deixe-os cair. O livro chega ao chão primeiro,e a folha A4 depois,ou chegam ao mesmo tempo ?
E fala de outros temas,entre os quais, "o universo estático de Einstein",que terá sido o seu maior erro; o fluido cósmico ou magma uniforme;os
problemas do horizonte e da planura;os inigmas do Big-Bang;do éter e da constante cosmológica;da matéria escura que talvez seja um fluido de poeira e diz--com bom humor-- que " durante o período da expansão movida a anfetaminas,a luz percorre uma distância finita,mas  a
expansão é " mais rápida  que a luz ",dilatando infinitamente a distância que separa o raio de luz do seu ponto de partida".
Na 2ª Parte do livro começa por falar da sua experiência na Universidade de Cambridge:do lado positivo,a tolerância relativamente á diferença,
a aceitação da originalidade e a impressão de um manicómio benigno ; do lado negativo,um ambiente algo xenófobo,que acolhe mal as mulheres e os estrangeiros. Depois,inicia a longa descrição da saga para publicar o seu "artigo" sobre a VSL numa revista científica. Conta 
como deu a conhecer a Andy Albrecht a sua "VSL",na Conferência de Princeton,na primavera de 1996,declara a sua aversão á burocracia científica e fala da sua relação com  a namorada Kim,também formada em física,e do cientista que aprendeu a nadar lendo livros.E o certo é
que não se afogou... Descreve a sua viagem a Goa,na Índia tropical,outrora uma colónia portuguesa e que hoje faz parte do mapa das deambulações nomádicas de qualquer seguidor  que se preze da doutrina  "paece-and-love", que aí tem colónias permanentes.
A batalha pela publicação do artigo da VSL,acabou por ser ganha,após longa e difícil discussão com o "referee" da revista e que exigiu
"mais de sete voltas de perguntas do referee e respostas dos autores" com muitas discussões pelo meio. E acaba por afirmar que "a VSL
pode ter a resposta para a origem da matéria : " de onde veio o universo ?  A VSL dava a resposta ". Também fala da sua estadia em Aspen,
nos Estados Unidos,um ambiente chato que o desiludiu,ao contrário das outras vezes que tinha estado nos USA. E diz que " nos USA estão lá o melhor e o pior de todos os mundos possíveis,ambas as coisas em grandes quantidades." E descreve os cálculos matemáticos complexos,um com 50 páginas de contas difíceis,outro com 30 páginas e ainda um  3º com umas 10 páginas. E também veio de férias a Portugal onde a namorada Kim perdeu as chaves do carro nas areias de uma praia alentejana e volta á carga com a batalha que travou com a revista "Physical Review D" e que demorou cerca de um ano. Entretanto,ganha outro ilustre colaborador-- John Borrow--que escreve sobre a
VSL  e lhe chama " o modelo Albrecht-Magueiro" e,então,diz João Magueijo, "afinal já não eramos só dois". De facto,com o tempo passaram a
ser mais,já que outros cientistas se cruzaram com Magueijo para trabalhar ou falar sobre a VSL : John Moffat,que tinha descoberto uma outra versão da VSL,em 1992 ; Stephen Alexander,com quem trabalhou em possíveis implementações da VSL no âmbito da teoria das cordas/teoria M,e Lee Smolin um dos criadores da gravidade quântica com laçadas. Entretanto,Andy Albrecht abandonou o projecto e Magueijo herdou o seu emprego no Imperial College,tendo conseguido um lugar permanente,mas agora tinha que dar aulas. Por falar em aulas,a namorada Kim 
resolveu abandonar a ciência,como investigadora,e tornar-se professora do ensino secundário em Londres.
Depois,João Magueijo espraia-se em considerações científicas sobre variadíssimos temas ,como,por exemplo,as cordas cósmicas,o comprimento e o tempo de Planck e mostra-se céptico quanto á descoberta de uma "teoria de tudo" e cita Andy Albrecht que terá desabafado
certa vez que a Teoria das Cordas/Teoria M não é a "teoria de tudo" mas sim a  "teoria que dá para tudo" . Distingue o Einstein "novo" do
Einstein "velho" e fala das duas principais  "seitas" da gravidade quântica : a Teoria das Cordas/Teoria M e a Teoria da Gravidade Quântica com Laçadas (loops) , que são hoje duas famílias adversárias,com uma mentalidade mafiosa,que faz lembrar os fanáticos religiosos--chega a chamar  aos partidários da Teoria M os " discípulos da fé M " embora reconheça alguns pontos a favor da teoria das cordas,nomeadamente por parecerem capazes de unificar diferentes partículas e forças. E dá um exemplo: da mesma forma que as cordas de uma viola têm determinadas frequências,ou harmónicos de vibração,também as "cordas fundamentais" têm a sua própria escala musical e cada nota corresponderia a um tipo de partícula,pelo que,fotões,electrões,gravitões e por aí fora--todas as partículas e todas as forças mais não seriam que diferentes configurações do mesmo tipo de objecto:cordas fundamentais. Contudo,diz que a VSL,no trabalho que tem desenvolvido com 
LEE SMOLIN,não pretende ser uma teoria final .Pelo contrário,presume que não conhecemos a teoria final,e acrescenta que VSL quer agora dizer muitas teorias diferentes,e não se sabe qual delas é a correcta,se é que alguma o é.
Mas,Magueijo não desiste,embora alguns físicos experimentais,quando ele lá aparece a solicitar alguma verificação,lhe digam " você está mas é passado". Magueijo,porém,não vacila.Acredita que talvez não falte assim tanto para que a VSL seja confirmada. E se a VSL falhar ?  "se a
VSL falhar,tentarei outra ideia ainda mais radical: a ciência só vale a pena na medida em que nos é permitido perder-nos na selva do desconhecido".
............................................................................................................... Quando João Magueijo era miúdo,aí com os seus trés anos,os pais
punham-lhe á frente um prato com espinafres. Magueijo,olhava para aquilo e,com as duas mãos,empurrava o prato para o outro lado da mesa.O pais voltavam a pôr-lhe o prato á frente. E ele voltava,com as duas mãos,a empurrar o prato para o outro lado da mesa.
Com ou sem espinafres,não faltou a Magueijo  a energia para se envolver nesta aventura científica da VSL. As descobertas científicas nunca são fáceis nem lineares e é preciso capacidade e empenhamento para travar uma batalha destas.
João Magueijo ainda é novo. Tem muitos anos pela frente para aperfeiçoar a "sua" VSL e para descobrir novos rumos e novas soluções
para a cosmologia. E,quem sabe,tornar-se num outro portugues ilustre que,não dando novos mundos ao mundo,deu novas e importantes explicações sobre a origem e o funcionamento do universo.