Nota 62 - DENTRO DO SEGREDO - de José Luís Peixoto
"DENTRO DO SEGREDO-Uma Viagem na Coreia do Norte" é um livro publicado pelo escritor José Luís Peixoto e relata
a viagem que este fez,em 1912,á Coreia do Norte,por ocasião do centenário do nascimento do líder norte-coreano Kim Il-sung,
em abril de 1912."Kim Il-sung 100 th birthday Ultimate tour(Ultimate Option)",assim se chamava a visita de 15 dias.
José Luís Peixoto,nasceu em 1974,em Galveias,Ponte de Sôr,é licenciado em Línguas e Literaturas Modernas(inglês e alemão)
pela Universidade Nova de Lisboa e em 2001 recebeu o Prémio Literário José Saramago com o romance "Nenhum Olhar",
que foi incluido na lista do "Finantial Times" dos melhores livros publicados em Inglaterra no ano de 2007.O seu romance
"Cemitério de Pianos" recebeu o Prémio Cálamo Otra Mirada,atribuido ao melhor romance estrangeiro publicado em Espanha
em 2007 e os seus romances estão publicados em Espanha,Inglaterra,Itália,França,Finlândia,Holanda,Brasil,USA,entre outros
países,estando traduzidos num total de vinte idiomas.(contra-capa)
Podemos resumir as ideias do autor acerca desta viagem,em três ou quatro afirmações: a)- A Coreia do Norte é o país mais
isolado do mundo.Esta característica faz com que,ainda hoje,se lhe chame "o reino eremita".E é também o país mais
militarizado do mundo:com 24 milhões de habitantes,tem o 4º maior exército do mundo,com mais de 1 milhão e cem mil
soldados armados; b)- Na Coreia do Norte,os estrangeiros não podem andar sozinhos na rua,e é proibido trazer música
estrangeira para a Coreia do Norte; c)-Possui uma agricultura pobre e antiga,com décadas de atraso,um comércio modesto
com poucas lojas,muitas estradas de má qualidade e em mau estado e uma indústria arcaica; d)- A ditadura que se vive
na Coreia do Norte não é comunista.A ideia de raça,a xenofobia e o sentimento patriótico são,realmente,a força
ideológica que carrega o sistema norte-coreano.É um país nacionalista.
Antes de embarcar no avião,o autor foi obrigado a assinar uma declaração na qual garantia que não iria publicar qualquer
relato ou registo daquilo a que assistisse,sob pena de não levantar voo.Agora-diz o autor-um advogado está a tentar
ajudar-me a reverter esse compromisso.
Na Coreia do Norte os estrangeiros não podem andar sozinhos na rua.Mas o autor fintou a proibição.Como ? Correndo!
Perguntou á guia-a menina Kim-se podia correr.E,talvez para sua surpresa,a resposta foi afirmativa.Assim,a partir do
hotel em Pyongyang,saíu a correr,qual "intrépido aventureiro" e praticou jogging durante alguns quilómetros,o que deu
para ver a Casa Internacional do Cinema,o Estádio de Futebol Yanggakdo e passou por "centenas de mulheres a cavar".
Correu durante 49 m e 12 s.Num outro dia,na cidade de Hungnam,voltou ao jogging,durante 57 m e 46 s.Vê-se que o
autor gosta de correr.Repare-se na precisão com que apontou os minutos e os seguntos.Quem sabe se não será um
participante de algumas corridas de estrada que se realizam em Portugal.Talvez tenhamos aqui um futuro maratonista a
quem se possa chamar "o Murakami português".
Fala do Arco do Triunfo de Pyongyang "como o de Paris,mas maior",dos telefonemas que,a partir do hotel,fez para o filho,
a irmã e a mãe,refere o barco americano aprisionado pelos norte-coreanos-o Pueblo- e diz que precisou de ir á Coreia do
Norte para dar um tiro pela primeira vez,numa carreira de tiro que ficava na Vila Desportiva de Mangyonglee,onde também
havia pavilhões de andebol,ténis de mesa,desportos de combate,badminton,complexo de piscinas,etc.
Descreve a "zona desmilitarizada" no paralelo 38.Com 257 km de comprimento,a fronteira entre a Coreia do Norte e a
Coreia do Sul,atravessa a península de um lado ao outro.A envolver essa extensão,com uma largura de 4 km, a
Zona Desmilitarizada é uma faixa de segurança com o objectivo de proteger as tréguas,promovendo a contenção
militar.É uma zona despovoada de civis e pouco frequentada por pessoas.
Refere-se ao emblema com a cara de Kim Il-sung ou Kim Jong-il(ou de ambos),que todos os norte-coreanos recebem
aos 15 anos de idade e,a partir de então,espera-se que o usem sempre que saem de casa,e ás encenações durante
algumas visitas que arrasaram a credibilidade das mesmas;descreve a visita a uma siderurgia,a uma fábrica de vidro,
uma barragem,ás Torres da Vida Eterna-em 1997,existiam 3.150 em todo o país,e fala dos lugares visitados no norte e
leste da Coreia,alguns dos quais,poucos ou nenhuns estrangeiros viram,casos das regiões de Wonsan,Hamhung e Pujon.
Refere-se ás pessoas de Pyongyang,a capital,como "urbanas,tão diferentes de todas aquelas pessoas espalhadas ao longo
dos campos" e refere o metro de Pyongyang,onde o tamanho das escadas rolantes impressionava e que a cento e vinte
metros a baixo do solo,é o metro mais profundo do mundo.A Coreia do Norte é actualmente o único país do mundo onde se
pratica ginástica em massa com regularidade e explica em que consiste.Fala dos camiões a lenha ou carvão que encontrava
pelas estradas,as mulheres a amassar cimemto e descreve outras visitas:uma escola secundária,diversos museus,a
exposição comemorativa,onde podiam ser vistas as ofertas feitas aos líderes norte-coreanos,como dois vagões de comboio,
completos,um oferecido por Estaline e o outro por Mao-Tse-Tung,mas também as ofertas portuguesas:um conjunto de terrinas
e tigelas em forma de couve,louça das Caldas da Rainha e outras louças oferecidas pelo ex-Presidente Francisco da Costa
Gomes e pela Câmara Municipal do Seixal.
Descreve o dia do aniversário,fala do desfile militar e do fogo de artifício e diz que,Pyongyang,a capital,com 3,3 milhões de
habitantes,com os seus monumentos,boas estradas,o moderno metro,etc,comparada com o resto do país,parece uma
cidade futurista e conclui que,depois de tudo aquilo que viu e viveu naqueles 15 dias "não de deve substimar o valor de
respirar fundo".
Para terminar:na Coreia do Norte-diz o autor-falava-se bastante da reunificação,sempre segundo os planos e as palavras
de Kim Il-sung.Quando o mapa do país era mostrado,fosse em que contexto fosse,a península da Coreia nunca se
apresentava dividida.O mapa incluia sempre as duas Coreias.
Assim,o retrato que fica da Coreia do Norte,depois da leitura desta "viagem" do José Luís Peixoto,é o de um país pouco
desenvolvido,militarizado,fechado sobre si mesmo,com uma capital moderna,mas com um nível de vida geral bastante baixo,
e um desenvolvimento económico,agrícola,comercial e industrial,algo antiquado.A reunificação da Coreia é uma
aspiração legítima.Assim como não fazia sentido existirem duas Alemanhas,a do Leste e a do Ocidente,também não
faz sentido existirem duas Coreias.O Povo Coreano é só um e a reunificação permitirá um mais rápido desenvolvimento
da Coreia do Norte e a subida do nível de vida do seu povo.