NOTA 47 - AUSCHWITZ - de Léon Poliakov

1 - O campo de AUSCHWITZ ainda não existia quando os métodos do genocídio começaram a ser experimentados;os objectos
dessas primeiras experiências não foram os judeus,ou qualquer outra "raça inferior",mas os internados em asilos de alienados alemães,
com vidas indignas de serem vividas,segundo a ética hitleriana.Por mais diversas que possam ter sido,segundo as épocas e as civilizações,as
 formas de tratar a loucura,o assassínio puro e simples constituia um processo radicalmente novo,característico sem dúvida de uma sociedade
que deslizava ela própria para a demência colectiva. O "programa de eutanásia" foi promulgado por um decreto secreto de Hitler em 1 de Setembro de 1939,quer dizer,no próprio dia da declaração de guerra.Sobre a égide de dois membros do seu gabinete pessoal,Ph.Bouhler e V.
Brack,o comissário de polícia Christian  Wirth foi encarregado da sua realização.O processo ao qual recorreu foi a asfixia por óxido de 
carbono,em seis estabelecimentos especiais que para esse efeito instalou em diferentes pontos da Alemanha.Comissões médicas de que 
faziam parte eminentes psiquiatras do III Reich visitavam os asilos de alienados e selecionavam os indivíduos que lhes pareciam incuráveis;
em seguida,os serviços de Wirth transferiam as vítimas para o estabelecimento de extermínio mais próximo. Esta operação macabra prosseguiu sob o signo do segredo entre fins de 1939 e outubro de 1941; mais de 100 mil alemães foram assim sacrificados aos
 deuses da raça.
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Já tive a oportunidade de visitar o campo de concentração de AUSCHWITZ, há alguns anos,durante um tour pela Polónia que incluiu também
a capital Varsóvia,Cracóvia,Katowice,etc.. A visita a Auschwitz não deixou de ser um momento de reflexão,pelo conhecimento que se tinha
do que ali se passou,apenas há algumas décadas atrás.
"Em Auschwitz,Polónia,os nazis instalaram quatro campos de concentração por onde passaram milhões de deportados,sobretudo polacos e
judeus : 3 milhões foram exterminados ou morreram de privações.É o dia-a-dia neste lugar onde o genocídio foi praticado no mais alto grau
de sempre que Léon Poliakov reconstitui com base em toneladas de documentos reunidos nos arquivos do Centro de Documentação Judaica
de Paris - ordens de serviço SS,planos secretos dos nazis,relatórios de sobreviventes,etc..
O autor do livro - Léon Poliakov - nasceu em Leninegrado em 1910 e consagrou-se depois da guerra,ao estudo dos arquivos do III Reich.
Com o seu livro "O Breviário do Ódio",tornou-se um especialista de reputação internacional,e na sua bibliografia destaca-se ainda a "História
do Anti-Semitismo".(contra-capa e apresentação)
E o que conta Léon Poliakov do dia-a-dia de Auschwitz ?  Conta,por exemplo,o relato que fazem alguns sobreviventes do campo de concentração,como o do Dr. Nyiszli,um médico legista húngaro a quem um conjunto de circunstâncias permitiu assistir a muitos extermínios
e sobreviver-lhes : " Toda a gente entrou já para as CÂMARAS DE GÁS.Uma ordem roufenha soa:"Que os SS e o comando especial abandonem a sala.Eles saem e enumeram-se. As portas fecham-se e as luzes são apagadas do exterior.
 Nesse mesmo instante ouve-se um ruído de motor.Trata-se de um automóvel de luxo com a insígnia da Cruz Vermelha
Internacional que chega. Dele saem um oficial SS e um suboficial. O suboficial segura nas mãos quatro caixas  metálicas verdes.
 Avança sobre a relva,onde,de trinta em trinta metros,saem da terra pequenas chaminés de betão. Depois de se haver munido
   de uma máscara anti-gás,levanta a cobertura da chaminé,que é também de betão. Abre uma das caixas e despeja o conteúdo - uma matéria granulada cor de malva - na abertura da chaminé. A matéria despejada é "cyclone" ou cloro sob a forma granulada,
que produz gás logo que esteja em contacto com o ar. Esta substância granulada cai no fundo da chaminé sem se espalhar,e o gás que produz escapa-se através das perfurações e enche ao cabo de alguns instantes a sala onde os deportados estão amontoados. Em cinco minutos,matou toda a gente."
É assim que as coisas se passam para cada comboio.Veículos da Cruz Vermelha trazem o gás do exterior. Este nunca existe em "stock" nos
crematórios.É uma precaução infame,mas mais infame ainda é o facto de que o gás seja transportado num veículo com a insígnia da Cruz
Vermelha Internacional. Para estarem seguros do seu trabalho,os dois carrascos do gás esperam ainda cinco minutos.Depois acendem um cigarro e partem no seu automóvel. Acabam de matar 3 mil inocentes.
Vinte minutos depois,põem-se em funcionamento os aparelhos eléctricos de arejamento a fim de evacuar o gás. As portas abrem-se,chegam
camiões e um grupo do Sonderkommando ("comando especial") carrega separadamente os vestuários e os sapatos. Vão ser desinfectados.
Desta vez,trata-se de uma desinfecção real.Em seguida são transportados em vagões para diferentes pontos do país.
Os aparelhos de arejamento,sistema Exhautor,evacuam rapidamente o gás da sala,mas nas fendas,entre os mortos e entre as portas,fica sempre uma pequena quantidade.Isso provoca,mesmo várias horas depois,uma tosse sufocante.É por isso que o grupo do Sonderkommando
que penetra em primeiro lugar na câmara de gás está munido de máscaras anti-gás. Um quadro horrível se oferece então aos olhos dos espectadores . Os cadáveres não estão deitados um pouco por toda a parte ao longo da sala,mas empilhados num montão a toda a altura
da sala.A explicação reside no facto de que o gás inunda primeiro as camadas inferiores do ar e só lentamnete sobe para o tecto. É isso que
obriga os infelizes a espezinharem-se e a subirem uns sobre os outros.Alguns metros mais acima,o gás atinge-os um pouco mais tarde. Que
luta desesperada pela vida! No entanto,tratava-se apenas de uma prorrogação de dois ou três minutos.Se eles tivessem sabido reflectir,teriam pensado que pisavam os seus filhos,os seus pais,as suas mulheres.Mas não podem reflectir.Os seus gestos não são já mais do que reflexos
automáticos do instinto de conservação.Observo que na base do montão de cadáveres estão os bebés,as crianças,as mulheres e os velhos;
no cimo,os mais fortes.Os seus corpos,que têm numerosos arranhões provocados pela luta que os atiça,estão frequentemente enlaçados.
O nariz e a boca ensanguentados,o rosto tumefacto e azul,deformado,tornam-nos irreconhecíveis... "(Dr.Miklos Niiszly-Medecin  à Auschwitz,
Souvenirs d´un Médecin déporté).
Um pouco mais á frente,Poliakov refere-se aos CREMATÓRIOS, que eram vários. Os crematórios II e III podiam incinerar 350 cadáveres por
hora,trabalhando ininterruptamente com dois turnos de 12 horas em cada 24 horas,com um intervalo de 3 horas para retirar as escórias dos
geradores e assim podiam absorver no total 5.000 cadáveres em 24 horas.(...) Os crematórios IV e V podiam incinerar,em média,3.000 cadáveres por dia.Contudo,na primavera de 1944,quando do afluxo de mais de 450.000 judeus da Hungria em seis semanas,o rendimento do
conjunto dos crematórios revelou-se insuficiente,de modo que novamente milhares de cadáveres foram queimados ao ar livre.
No "Canadá" - um conjunto de 30 baracões - eram amontoados e separados os bens que os deportados traziam consigo. Killy Hart,uma sobrevivente,diz a dado passo:" escondemos na terra caixas cheias de ouro e de objectos preciosos.Quando tinhamos disso possibilidade,
entregavamos tais objectos a detidos masculinos com os quais tinhamos contactos.Eles,por sua vez,tinham contactos com o movimento da
resistência (polaca) no exterior. Esperávamos que seria possível conseguir desse modo armas e munições para uma insurreição próxima".
As firmas industriais alemãs que trabalhavam no imenso complexo de Auschwitz (Krupp,Siemens,Union,Deutsche Ausrusungswerke,I.G.
Farbeninderstrie,etc.) só tinham em vista a produtividade. Os crematórios e as câmaras de gás não lhes diziam respeito;ignoravam-nos,pura
e simplesmente. Dizia Alfred Krupp, o mais ilustre dos capitães da indústria da Alemanha :" Em resposta á questão de saber porque é que a minha família se declarou por Hitler,respondi:a economia tem necessidade de um desenvolvimento são e progressivo.Os numerosos partidos políticos alemães lutavam entre si na desordem;não era possível uma actividade construtiva.Nós,os homens da Krupp,não somos idealistas,mas realistas.O meu pai era diplomata.Tinhamos a impressão de que Hitler nos daria a possibilidade de um desenvolvimento são.
O que,de resto,fez.Anteriormente,o sistema dos partidos,era caótico.Hitler tinha um plano e sabia agir...Os ideais não existem! A existência
é uma luta para nos mantermos vivos,pelo pão e pelo poder.Falo com toda a franqueza,porque isso é necessário nesta hora amarga da derrota...Nós,os homens da Krupp,nunca nos preocupámos muito com a vida.Queriamos um sistema que funcionasse bem e que nos desse
oportunidade de trabalhar tranquilamente.A política não é a nossa especialidade.".
A decisão de exterminar os judeus - o povo da Bíblia - da Europa foi tomada no verão de 1941.A Roménia e a Bulgária,países que permaneceram semi-independentes,recusaram-se a entregar os seus judeus. No vasto conglomerado de Auschwitz a população oscilava á volta de 100.000 habitantes.No outono de 1943,estando terminado o grosso da sua tarefa,os campos de extermínio polacos foram destruidos
por ordem de Himmler,de modo que Auschwits passou a ser o único estabelecimento desse género. O armistício separado concluido pela Itália com os aliados em  setembro de 1943,permitiu a Eichmann abrir a caça aos judeus italianos.Vimos então os SS arrebanharem os judeus
da Cidade Eterna sem que o Sumo Pontífice,bispo de Roma,fizesse ouvir a sua voz para os defender e denunciar os crimes do nazismo.
Competiu ao longo desses anos sombrios ao episcopado francês,salvar a honra da Igreja Católica,protestando contra as deportações,com vigor e coragem. Os últimos judeus da Europa a tomarem em massa o caminho de Auschwitz foram os da Hungria. A sua hora chegou quando os alemães ocuparam,em março de 1944,militarmente o país e ali instalaram um novo governo da sua confiança. Em agosto de
1944 ainda chegaram a Auschwitz cerca de 70.000 judeus do último gueto na Polónia - o de Lodz.
Em 2 de novembro de 1944,Himmler,julgando a partida perdida e embalado pela esperança falaciosa de se despachar,de se aliar,talvez,
ele e os seus SS, aos americanos para combater os russos,fez parar,sem conhecimento de Hitler,as deportações e os extermínios. Em
26 de novembro,por sua ordem,os crematórios e as câmaras de gás,foram destruidos. Em janeiro de 1945,foi ordenada a evacuação de Auschwitz.Contava,nesse momento,cerca de 66.000 detidos.Cerca de 5.000 deles,doentes e incapazes de andar,ficaram em Auschwitz
e foram libertados pelos russos em 27 de janeiro de 1945.
Poliakov,neste seu livro sobre AUSCHWITZ,refere outros factos relevantes,como,por exemplo,os ficheiros de Auschwitz,as experiências médicas,testemunhos de sobreviventes e um estudo de um médico SS de Auschwitz,o Dr. Hans Munch, sobre A Fome e Esperança  de
Vida em Auschwitz. Mas,como é óbvio,não cabe na finalidade deste pequeno comentário dissecar todas essas matérias. Quem tiver
interesse nisso,poderá procurar e informar-se mais detalhadamente sobre toda a problemática dos campos de concentração da II Guerra
Mundial e,em particular,sobre o de Auschwitz.
Como eu disse num outro comentário,ás vezes olhamos para as estantes com livros e reparamos num que nos diz qualquer coisa. Foi o caso.
Afinal, já lá estiveste ! Porque é que não escreves umas palavras !
E é assim !  Aqui estão elas.