1 - Mas de que falo eu ?  Os homens sucedem-se,Jean M. / filhos de homens duros /

                          são brandos,e mesquinhos dão origem a generosos. / Os homens sucedem-se e procriam,/

                          e a genética é,em parte,um jogo / -algo que pode correr bem / ou muito mal / (III,136)

                     2 - E o mundo não tem metade /porque nunca está inteiro;as gerações de animais, /

                          homens,plantas e outras matérias organizadas / sucedem-se:mortos uns,nascem outros: /

                          nunca todos juntos permanecem em redor / de um banquete.O mundo nunca está completo: /

                          faltam pessoas que nos morreram. / (V,13)

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      O livro " Uma Viagem á Índia ",de Gonçalo M. Tavares já ganhou diversos e importantes prémios literários,entre os quais,

o Grande Prémio de Romance APE 2011 e o Prémio Sociedade Portuguesa de Autores-melhor ficção narrativa 2010 e já

vai na 4º edição.Gonçalo M. Tavares,nasceu em 1970,é professor universitário e escritor e a sua primeira obra-"Livro da Dança"- foi publicada em 2001.Os seus livros têm dado origem a peças de teatro,objectos artísticos,vídeos de arte,ópera,etc.Estão em curso cerca de 190 traduções dos seus livros,em edições distribuidas por quarenta países.O seu romance "Jerusalém" foi incluido na edição europeia de "1001 livros para ler antes de morrer"- um guia cronológico dos mais

importantes romances de todos os tempos.Em 2010 recebeu o prémio do Melhor Livro Estrangeiro publicado em França,com

o seu livro "Aprender a Rezar na Era da Tecnica".

       UMA VIAGEM À ÍNDIA relata uma epopeia individual,que se inspira na epopeia colectiva de Luís Vaz de Camões,

"Os Lusíadas".É um livro escrito em 10 cantos,tal como Os Lusíadas,e é a descrição de uma viagem á Índia,tal como Os

Lusíadas são a descrição da viagem da descoberta do caminho marítimo para a Índia pelo Vasco da Gama.O autor,de

alguma forma,pensou n´Os Lusíadas para escrever esta sua viagem à Índia,na qual o herói é um personagem chamado BLOOM. "Uma Viagem á Índia" é,pois,a descrição da vida do personagem central--Bloom--e,em particular,a sua viagem á

Índia.

           Mas quem é Bloom ? Bem,poderá ser "o Ulisses do séc.XXI"(Eduardo Lourenço,16),mas--diz Bloom--"sou,de uma

maneira geral magnífico...Subo ás árvores com a agilidade de um chimpanzé e sei estrelar ovos e fazer um arroz vago.

E,dizia o seu amigo parisiense Jean M.:"vejo em ti uma pessoa forte,que comenta a vida,e não uma pessoa fraca que é

comentada por ela.E acrescenta o narrador:"porém,é claro que Bloom também não é uma obra prima da ética.Não sendo

um ladrão nem um cabrão traiçoeiro,também não é santo.

         Porque é que Bloom foi fazer uma viagem á Índia ? Para esquecer a tragédia do passado e os traços mais dolorosos

de uma família turbulenta,e também,para procurar sabedoria e uma alegria nova.

        E,chegados aqui,há que dizer que Bloom amava Mary,mas o pai de Bloom não concordava e mandou 3 assassinos

matar Mary.E mataram.Depois,Bloom,por vingança,mandou matar os assassinos de Mary.Mais!acabou por matar o

próprio pai,de quem gostava,Mas o pai tinha mandado matar a sua querida Mary.

       Vê-se,pois,a tragédia em que Bloom está metido.Acabou por fugir de Lisboa,com a ajuda de uns amigos e inicía a

sua viagem à Índia.Mas,ao contrário de Vasco da Gama,não vai de barco,nem vai para o Sul.Vai antes para Londres.De

avião.Em Londres conhece um indivíduo com quem se envolve em luta e que o tenta matar.Mas escapa e segue para

Paris,a sua 2ª etapa.Aí sim!encontra um amigo--Jean M.--com quem conversa longamente sobre os mais diversos assuntos.

Mas tinha que partir para a Índia,que,afinal,era o seu destino.E parte.Mas ainda passa por Viena,onde adoeceu 7 dias.Logo

adoeceu em Viena "uma cidade onde abundam os palácios".E ainda deu um salto a Praga,onde logo se acalmou e deixou

de estar doente.Mas,finalmente,lá seguiu para a Índia com um contacto que lhe tinha dado o seu amigo parisiense Jean M.  

    "E Bloom com o seu sapato minúsculo,pisou pela primeira vez a Índia.Que grande é um país onde se chega para mudar

de vida".E o que é que ele vê na Índia? "Na Índia os homens gritam muito.Existe no ar uma densidade humana abundante:

o ar parece menos aéreo,há muitos encontrões nas ruas para os raros encontros e a pobreza material é evidente e constrata

com a riqueza das histórias que velhos sentados em esquinas recentes contam às mulheres sensatas e aos turistas.E

encontra o amigo Anish,em casa de quem fica alujado.Mas Bloom fora á Índia,não só para esquecer a sua trágica vida,mas

também para aumentar a sua sabedoria.Por isso Anish levou-o a um sábio--chamava-se Shankra--com quem falou demo-

radamente.Mas as coisas não correram bem.Shankra quis ficar com dois livros antigos e sábios que Bloom levava na sua

mala:"Cartas a Lucílio",de Séneca e o Teatro Completo,de Sófocles,em edições raras,e a conversa deu para o torto.

Acabaram por se zangar.Bloom conseguiu ficar com uma edição do livro "Mahabarata",de Shankra,e fugiu da perseguição

que este e alguns amigos lhe moveram.E deixou a Índia,trazendo consigo o amigo Anish,em casa de quem ficara.E que

diz Bloom? "Da Índia não trago a imortalidade(o que me fará falta,sem dúvida),trago,sim,maus tratos físicos e a perda

definitiva das ilusões.E trago ainda o que levei:o velho rádio do meu pai.Não funcionava.E ainda não funciona."

     E para onde vai Bloom ? Regressa a Paris,para afogar as mágoas com o seu amigo Jean M.,numa festa com prostitutas,

pagas para os distrair e consolar.Mas a festa acabou mal...

      Regressa a Lisboa de comboio.A polícia procura-o por dois assassínios:um em Lisboa e outro em Paris.(pelos vistos,

a polícia ainda não descobriu os outros três.É que foi Bloom quem mandou matar os 3 assassinos de Mary.É,pois,autor

moral).

        Em Lisboa,a mãe já tinha morrido há uns meses.É um homem só,tal como era quando partiu.Acaba por oferecer a

mala da viagem,com a edição rara do livro indiano "Mahabarata",a um desconhecido que na rua lhe dissera "boa noite!".

         Põe a mão no bolso,o velho rádio do pai nem com a viagem voltou a funcionar.