NOTA 36 - A FACE DE DEUS - de Igor e Grichka Bogdanov

1 - "Houve certamente "alguma coisa" no começo para instalar isto tudo." - Robert Wilson,
Prémio Nobel da Física,em 1978.
2 - "Pertenço àqueles investigadores que não subscrevem nenhuma religião convencional,
mas que se recusam a acreditar que o Universo é um acidente fortuito.O Universo físico
encontra-se disposto com tanto engenho,que não posso aceitar esta criação como um facto
bruto.Deve existir,a meu ver,um nível de explicação mais profundo.Que se queira chamar-lhe
"Deus" é uma questão de gosto e de definição." - Paul Davies
3 - "Nós não somos o resultado de um simples acidente cósmico,o resultado fortuito de um
encadeamento de processos físicos num Universo que nos esmaga completamente" - George Smoot
             4 - "As leis da ciência,tal como as conhecemos actualmente,contêm certos números fundamentais...
o que é notàvel é que o valor desses números parece ter sido ajustado com muita precisão
para tornar possìvel o desenvolvimento da vida" - Stephen Hawking
        5 - "Todos aqueles que estão seriamente implicados na ciência acabarão um dia por compreender
que um espírito se manifesta nas leis do Universo,um espírito imensamente superior ao do homem."
                                                                                                                                       Albert Einstein
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" A Face de Deus " é um livro escrito pelos irmãos Igor e Grichka Bogdanov,editado em França em 2010,
e com esta edição portuguesa,de 2011. Grichka Bogdanov é diplomado pelo Instituto de Estudos Políticos
de Paris e é doutorado em matemática,enquanto o irmão Igor é doutorado em Física Teórica. Ambos são
professores catedráticos de cosmologia na Universidade Megatrend de Ciências Aplicadas de Belgrado.
Para quem gosta de temas relativos ao universo,nomeadamente quanto à sua origem,este livro dos irmãos
Bogdanov é mais uma "pérola". Porque está o universo tão bem regulado ? De onde vem a energia escura ?
De onde vem o Big Bang ? Qual o significado da expressão fotografar "a face de Deus" ? Qual é o maior
mistério do universo ? Estas e muitas outras questões obtêm resposta neste livro que é,sem dúvida,um
sério convite a uma reflexão serena sobre o papel que estamos a desempenhar neste pequeno planeta
a que chamamos Terra.
Como se diz na contra-capa,a expressão "era como ver a face de Deus" foi utilizada pelo astrofísico George
Smoot - Prémio Nobel da Física,em 2006 - quando a 23/04/1992,conseguiu,graças ao satélite "Cobe",tirar
fotografias do nascimento do universo tal como ele emergia das trevas cósmicas 380.000 anos após o Big Bang.
Desde então,esta expressão,que é uma metáfora,deu a volta ao mundo,desencadeou a fúria dos cientístas e
perturbou os crentes. A referida expressão foi proferida numa conferência,na sede da Sociedade Americana de
Física,em Washington. Disse George Smoot:"Observámos as mais antigas e maiores estruturas jamais vistas
no universo,apenas 380.000 anos após o Big Bang.Trata-se dos germes primordiais de estruturas actuais,
como as galáxias ou os aglomerados de galáxias. São pregas na trama do espaço-tempo,restos do período 
da criação".  Pela primeira vez,um satélite chamado Cosmic Background Explorer - COBE - acabava de
"fotografar" a luz mais antiga alguma vez emitida pelo Universo. Com mais de 13 mil milhões de anos,essa
radiação arcaica oferecia uma imagem pungente do "ovo cósmico" que acabava de nascer. Foi por isso que
George Smoot disse:" Para os espíritos religiosos,é como ver a face de Deus!".
Robert Wilson,colega de Smoot e que escreveu o prefácio deste livro,não teria feito a mesma afirmação.
Teria dito:"Estamos a contemplar a face da Criação",em vez da do Criador".
Trata-se apenas de uma imagem,de uma metáfora sem conteùdo religioso,embora a radiação fóssil (é o nome erudito
 da primeira luz) tenha sido uma das descobertas mais importantes do séc. XX,talvez mesmo de todos os tempos.
Isto leva-nos á Cosmologia Observacional :
 Os Astrónomos de Metal 
  Pela primeira vez,torna-se possível verificar a validade das ideias que dizem respeito à estrutura ou ao destino
último do nosso universo,através de satélites observadores,prodigiosamente precisos e potentes,aos quais os autores
chamam " Astrónomos de Metal " . Hoje em dia,os telescópios como o que Hubble utilizava,já não chegam. A partir
da Terra,mergulhada num nevoeiro perpétuo de poeiras e de ondas de todos os géneros,não é possível discernir
verdadeiramente os íntimos detalhes indispensáveis às novas descobertas. Para entrar nas profundezas da primeira
luz,será preciso observar de mais longe. Do espaço. Desde 1989,são três satélites que fotografam o fundo mais
distante do universo : o COBE (1989) ; o WMAP (2001) ; e o PLANCK (2009).
O  COBE encontra-se numa órbita de 900 km de altitude.E o que se vê nas imagens da primeira luz do universo ?
Uma espécie de esfera achatada nos polos,com um banho de cor azul sombrio,como se um oceano profundo cobrisse
todo o globo,do hemisfério norte ao hemisfério sul.Depois,distribuidas aqui e ali,manchas. De que se trata ? De minús-
culas diferenças de temperatura no seio da primeira luz.E tudo,absolutamente tudo dessa fascinante revolução,
reside ali:o feito de Smoot e da sua equipa foi o de terem mostrado,pela primeira vez desde 1965,que o fundo difuso
não está sempre todo à mesma temperatura.Algumas regiões,a vermelho,são ligeiramente mais quentes;outras,
a azul são um pouco mais frias.É aí que se esconde o segredo da origem! As diferenças de temperatura medidas
pelo COBE são justamente as estrias,as pregas que se veem na luz dos primórdios. De onde vêm elas ? Como e
porquê apareceram na radiação primordial!? Actualmente o mistério permanece ainda intacto.
O  WMAP é o segundo satélite cosmológico,aquele que sucedeu ao COBE. Foi lançado a 30/06/2001 e foi mil e
quinhentas vezes mais longe que o Cobe,para elaborar um mapa do fundo do universo,mais rico e mais preciso 
que o anterior. A sensibilidade dos captores do Wmap é cerca de 30 vezes maior que no Cobe.Por isso,o mapa
da radiação fóssil é mais fino e pormenorizado.Onde o Cobe não via senão manchas mais ou menos grosseiras,
o Wmap identificou e fotografou detalhes de magnífica precisão.Por outro lado,o Wmap permitiu precisar a idade
do universo: já não são 13.700 milhões de anos,mas 13.750 milhões de anos(com uma margem de erro de
120 milhões de anos). Mas o WMAP diz mais : apenas 4% do conteùdo do universo será constituido pela velha
matéria de sempre,feita a partir de átomos. Cerca de 1/4 será formado por "matéria negra" e cerca de 3/4 por
"energia negra",algo que ninguém sabe o que é e de onde vem.Ou seja,como se pode ler no site da NASA,
"o WMAP detectou uma assinatura essencial da inflação",o que,segundo os autores,nos coloca muito perto
daquilo a que poderíamos chamar "criação".
O  PLANCK é o terceiro satélite cosmológico - o 3º astrónomo de metal - e com ele "desenrola-se a mais
fantástica experiência cosmológica de toda a História",que vai mais longe que a do Cobe e do Wmap.
O Planck foi lançado recentemente,a 14/05/2009 e ao contrário do "Cobe" e do "Wmap" é europeu,da
responsabilidade da ESA (Agência Espacial Europeia). O que está em jogo com o Planck ?  "A missão,
dirigida pela ESA,com a participação importante da NASA,ajudar-nos-à a responder à mais fundamental
de todas as questões : como é que o espaço começou de repente a existir e se estendeu para se tornar
no Universo no qual vivemos hoje ? - todos estamos à espera da resposta - dizem os AA.
O "Planck" voa a um milhão e meio de quilómetros da Terra,numa paisagem escura e fria - mais de 270 graus
abaixo de zero - pesa duas toneladas,mede um pouco mais de 4 metros de diâmetro,parece ter o tamanho
e o peso de um carro. Move-se a várias dezenas de milhares de quilómetros por hora e gira sobre si
próprio um vez por minuto. O "Planck" é hoje o termómetro com melhor desempenho que pode existir. Pode
perceber,a partir da Terra,o calor de um gato sentado na Lua. É 30 vezes mais sensível e preciso que
o "Wmap" e ainda 1.000 vezes mais que o "Cobe".
Este satélite chama-se "Planck" em homenagem ao cientista alemão Max Planck,Prémio Nobel da Física
em 1918 e fundador daquilo a que se chama Física Quântica (ou Mecânica Quântica),cujo filho foi torturado
pelos nazis até á morte,em 1944. Max Planck era amigo de Albert Einstein,que tocava muitas vezes
violino para se descontrair.Planck gostava de se instalar ao piano para o acompanhar.Os dois cientistas
passavam por vezes horas a tocar,sem trocar uma palavra. Em 1929 recebem ambos a medalha Max
Planck e gracejam então acerca de um aspecto curioso : os dois juntos atravessam todo o universo,do
infinitamente pequeno ( Planck ) ao infinitamente grande ( Einstein )
Os AA. analizam depois vários outros assuntos : as "constantes físicas" - de onde vêm elas ? O que se
sabe é que esses números existem "desde sempre".Porém,não sabemos,e talvez nunca venhamos a saber,
de onde vêm ; a Teoria da Inflação - segundo a qual uma fracção de segundo depois do Big Bang o universo
se pôs a inchar desmesuradamente até se tornar quase plano ; a Radiação Fóssil - como um "espelho que
reflete a criação do universo" ou como uma "folha de papel no qual estariam impressas as informações" ;
os Gravitões como sendo a "partícula divina" ; O "estado KMS" - nunca ouviu falar nisto ? não se preocupe
porque a maioria das pessoas também não.Mas se quiser saber o que é, vá á pág.130 ;a energia escura
(ou negra) - o cosmos estará submetido á acção de uma força invisível que o força a precipitar-se cada vez
mais depressa para o infinito ? ; o tempo imaginário versus o tempo real ; o Big Bang vem da "informação"
primordial,codificada no instante zero . E os AA. acrescentam : "dizer que o Big Bang vem da informação,
não nos diz - e certamente nunca nos dirá - de onde essa informação,por sua vez,vem. " Haverá qualquer
coisa mais além ?  se aceitarmos a ideia de que o Universo é uma mensagem secreta,quem compôs essa
mensagem ? "  A ausência de resposta está,sem dúvida,escrita na mensagem".
Os AA. concluem que as grandes leis da física vêm de "outro sítio" . Que,pelos vistos,sempre será inacessível.
Talvez tenham razão !...
 
continua...