NOTA 31 - MOZART - de Aurelio Pellicanó
NOTA 31 - MOZART - de Aurelio Pellicanò
Este livro de Aurelio Pellicanò sobre a vida de Mozart é daqueles livros que compramos,ou nos oferecem,pelo
Natal ou pelo aniversário,e ao qual damos uma vista de olhos,lemos umas páginas,vemos algumas gravuras e,depois,
vai para a estante a aguardar outra ocasião para ser lido mais atentamente.Chegou agora a vez de ler com atenção este
MOZART de Aurelio P.,que já tenho cá em casa há um bom par de anos.É um livro grande,de capa dura e com sobre-
capa azul,onde consta uma foto de Mozart,então com oito anos,ao piano,o pai Leopold atrás dele a tocar violino e a irmã
Marianne,de 13 anos,que segura uma folha de música como se estivesse a cantar.O autor,Aurelio P.,nasceu em Milão
em 1920,e publicou vários livros entre os quais se destacam "Descartes" e "O Caminho da Felicidade".
Wolfgang Amadeus MOZART,nasceu em Salzburgo a 27/01/1756 e faleceu em Viena a 5/12/1791 e foi um prolífico
e influente compositor austríaco do período clássico,que mostrou uma habilidade musical prodigiosa desde a infância.
Já competente nos instrumentos de teclado e no violino,começou a compor aos 5 anos de idade e passou a se apresentar
para a realeza da Europa,maravilhando a todos com o seu talento precoce.Nos últimos anos da sua vida surgiram algumas
das sinfonias,concertos e óperas mais conhecidas,além do seu requiem.Foi autor de mais de 600 obras,muitas delas
referenciais na música sinfónica,concertante,operística,coral,pianística e de câmara e a sua produção foi louvada por todos
os críticos da sua época,embora muitos a considerassem excessivamente complexa e difícil,tendo influenciado vários
outros compositores ao longo de todo o séc.XiX e início do séc.XX. Hoje,Mozart é visto pela críticaespecializada como
um dos maiores compositores do Ocidente,tendo conquistado grande prestígio mesmo entre os leigos e a sua imagem
tornou-se um ícone popular.(cfr.wikipedia/mozart)
O livro trata fundamentalmente de descrever " a fabulosa digressão pela Europa do séc.XVIII do menino-prodígio e
da sua família ",digressão essa que Mozart e família fizeram a partir de 9/6/1763 e que durou cerca de 3 anos e meio.
Mas,não se trata apenas da descrição dessa GRANDE VIAGEM e dos contornos da mesma.Também analiza diversas
características do séc.XVIII,tais como,os transportes,os assaltos durante os mesmos,as doenças,os Príncipes e os seus
modos de vida,os ambientes sociais das cidades e a qualidade de vida das mesmas,etc.
A " Grande Viagem ",que começou em Salzburgo,teve como principais pontos de passagem,onde Mozart actuou em
diversos concertos,Munique,Ausgsburgo,Frankfurt,Bruxelas,Paris,Londres e Haia.Paris e Londres foram as principais
paragens. O programa dos concertos dos " FANTÁSTICOS MOZART ",rezava assim: " sob a direção de seu pai,o
kappelmeister Leopold Mozart da corte do Principado de Salzburgo,uma menina de doze anos e um rapazinho de sete
anos não só interpretarão concertos de clavicórdio e ao piano,como também,enquanto a menina executa as peças mais
difíceis dos mais consagrados mestres,o menino,para além de executar um concerto no violino,acompanhará sinfonias
ao cravo;depois de coberto o teclado com um pano,tocará por cima como se aquele estivesse a descoberto;em seguida,
adivinhará de longe todas as notas que se quiser,isoladas ou em acordes,no cravo ou em qualquer outro instrumento,
ou em sinos,copos,relógios,etc. Por fim,improvisará ao clavicórdio e também ao orgão(em todos os tempos que se queira
e em qualquer tom,incluindo os mais difíceis),para mostrar que também sabe o modo de tocar este instrumento que é
completamente diferente do modo de tocar o cravo.O preço é um táler por pessoa".
Em Paris,a revolução francesa estava a bater á porta e Leopold,observador atento e frio,apercebe-se dos sintomas,
uma atmosfera decadente nos costumes mas rica em acontecimentos culturais.A corte do Rei Luis XV residia em
Versalhes.Se Luis XIV tinha dito "O Estado sou eu" ,Luis XV,o soberano "bem-amado",cuja actividade principal parecia
ser o de trazer ao mundo filhos ilegítimos,bem podia dizer " o Estado é a marquesa de Pompadour",tal a influência que
esta mulher,favorita do rei,exercia.Mulher distinta e bela,com as maneiras de uma imperatriz romana,tomava conta de
tudo."Igualmente gratos lhe deviam estar todos os artistas,músicos,arquitetos que ela introduziu na corte e apadrinhou
a expensas do Estado e que transformaram Versalhes numa pequena Atenas". Aliás,Voltaire dirá acerca dla:"no fundo
do seu coração era dos nossos;protegia as letras o melhor que podia" .Em Paris,Mozart compôs as primeiras sonatas,
aos 7 anos.
Em Londres,o Rei Jorge III era um grande admirador da música e a sua mulher tinha estudado e tocava claricórdio
"muito bem para uma Rainha". Por isso,os Mozart não tiveram dificuldade em ser recebidos na corte,onde foram tratados
com deferência e cortesia,tanto pelo Rei como pela Rainha,de uma forma muito cortês e cordial,o que dava a parecer
impossível que estivessem diante do Rei e da Rainha de Inglaterra.Por isso,depois da "grandeur tipicamente francesa e
cenográfica de Versalhes,a simplicidade e a "austerity" dos ingleses não podiam senão espantar quem,como os Mozart,
estavam habituados aos cerimoniais torpes das cortes alemãs,mesmo as mais pequenas,como Salzburgo.Aliás,em
Salzburgo,por detrás da aparente despreocupação e jovialidade dos habitantes,o ambiente da cidade era sufocante,com
as suas intrigas,mesquinhices e invejas.
Isto leva-nos ao contexto sócio-político em que decorreu a "Grande Viagem".A "guerra dos Sete anos",contemporânea
de Mozart,começou em 1756 e serviu como pano de fundo á sua infância.Este conflito que se travou essencialmente
entre a Prússia e a Áustria,terminará em 1763,pouco antes da chegada de Mozart a Paris.A Europa,nomeadamente o
território que hoje é a Alemanha,conheceu na 2ª metade do séc.XVIII um período de grande agitação,já que o Sacro
Império Romano,fundado por Carlos Magno,tinha ido parar ás mãos dos Habsburgos,convertendo-se numa federação
de pelo menos trezentos e cinquenta estados nos quais a autoridade do Imperador era apenas nominal."Os Príncipes
não querem reconhecer o Imperador como seu chefe--informa-nos um embaixador italiano daquela época.A diversidade
de religiões,as discórdias internas,as contendas entre os Príncipes e as terras francas,o ódio que em geral se sente
pela grandeza da Casa da Áustria,transformaram a Alemanha numa terra litigiosa,desunida e instável.Os Príncipes,
grandes e pequenos,dedicam-se exclusivamente a luxos,festas e bebedeiras,pelo que,com tantas extravagâncias e
agitações,foi desaparecendo totalmente a boa governação com que Carlos Magno a dotara.E o perigo que era aventu-
rar-se pelas suas estradas.Na realidade,os ASSALTOS a carruagens e diligências eram tudo menos pouco frequentes,
apesar dos gendarmes que patrulhavam as estradas mais perigosas e que,algumas vezes,alinhavam com os próprios
malfeitores."A bolsa ou a vida!"-esta ameaça que se tornou famosa teve a sua origem nas estradas ensanguentadas do
séc.XVIII.
Pelos seus concertos,a família Mozart recebia dinheiro,relógios,tabaqueiras,espadas,anéis,etc.,o que permitiu
acumular alguns lucros consideráveis.Mas não se pense,contudo,que foi fácil a vida de Mozart.Nada disso.Os pais
não eram ricos e aventuraram-se á "Grande Viagem" precisamente com o objectivo de auferir alguns proventos que
lhes permitissem uma vida melhor.O pai de Mozart era,isso sim,um homem culto,mas,muitas vezes,a cultura não
anda de mãos dadas com a riqueza.
Eram distintos os passeios que os MOZART faziam pelas principais ruas das cidades por onde passavam ,para
chamar a atenção:"não é preciso muita fantasia para imaginar o desfile da família Mozart pelas ruas de Ausgburgo;
Nanneri,a irmã,num vestidinho de tafeta com rendas,Mozart em "camisol" de cor lilás,peruca e espadim,a mãe
coberta de jóias e o pai,empertigado,todo de negro e bastão,seguidos a devida distância pelo criado Sebastian que
carrega,para qualquer eventualidade,o violino de Mozart.
Numa viagem que mais tarde fez a Itália,Mozart receberia do Papa uma Cruz de Cavaleiro.
Foi na 2ª metade do séc.XVIII que a Europa conheceu um boom turístico excepcional,percorrida de lés a lés por
personagens das mais diversas extrações e nacionalidades:cientistas e charlatães,saltimbancos e empresários
teatrais,curandeiros e cirurgiões,políticos,diplomatas,soldados,etc. Diz Carlo Morandi,citado pelo autor:"muitos
possuem em comum uma força espiritual feita de expediente e audácia,que reflete a sabedoria de pertencer,não
a uma pátria politicamente unida,mas a uma nação ideal ",palavras que bem se podem adaptar a esse homem tão
apegado á tradição e ao mesmo tempo tão extraordinariamente moderno que foi Leopold Mozart.
................. E chega!muito mais havia a referir,mas se quiserem saber mais sobre Mozart,comprem este livro ou
outro que fale daquilo que foi a sua vida.
Por mim,de vez em quando,levo uns CDs de música clássica e ponho-os a tocar no carro.Agora,
quando estiver a ouvir um do MOZART,a sua música vai-me parecer mais familiar.Parece que o estou a ver
na "Grande Viagem"!.