NOTA 152 - A ESTRANHA ORDEM DAS COISAS - de António Damásio

1- Os sentimentos ainda não receberam o apreço que merecem como motivadores e negociadores da grande empresa cultural humana.

2- A homeostasia é o poderoso imperativo inato cujo cumprimento implica,em cada organismo vivo,seja ele grande ou pequeno,nada mais,nada menos do que persistir e prevalecer.

3- As mentes resultam da interação entre corpo e cérebro e não unicamente do cérebro. Sem corpo não há mente.

4- Dois dos maiores problemas clínicos que todo o mundo enfrenta são,a dependência das drogas e a gestão da dor.

5- Parte das sociedades que celebram a ciência e a tecnologia modernas,e que mais lucram com elas,parece estar numa situação de bancarrota "espiritual",tanto no sentido secular como religioso do termo.

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"A Estranha Ordem das Coisas",editado em novembro de 2017,é o mais recente livro do ilustre cientista português prof.dr. António Damásio,74 anos,nascido em Lisboa,médico neurologista,professor na Universidade da Califórnia,autor de outros importantes livros,como v.g.,"O Erro de Descartes","Ao Encontro de Espinosa" e "O Livro da Consciência",galardoado com inúmeros e importantes prémios e distinções,como o Prémio Grawemeyer,em 2014,na área da Psicologia,e a Medalha Freud,em 2017,na área da neurobiologia da mente.Tem uma escola secundária com o seu nome em Lisboa e é membro do Conselho de Estado desde abril de 2017,tendo substituido o eng. António Guterres.

"A Estranha Ordem das Coisas" é um magnífico livro. Dá ênfase à importância dos sentimentos - que são experiências mentais - e ao papel da homeostasia,entendendo-a como o desejo inato e espontâneo da vida,em persistir e avançar para o futuro,ultrapassando todos os possíveis obstáculos.Homeostasia e regulação da vida são frequentemente vistos como sinónimos. Mas há outros temas e afirmações de muito interesse neste excelente livro.Por exemplo,diz o ilustre autor,que o cérebro não é a única origem da mente e sobre o sistema nervoso sabe-se muito,mas não se sabe o suficiente. Afetos e consciência são faculdades que se perderam de vista e é necessário corrigir a homeostasia desregulada.Os deuses,e,a seu tempo,um só Deus,são uma maneira de transcender os interesses erráticos dos seres humanos e de procurar uma autoridade "desinteressada" que possa ser imparcial,e em que se possa ter confiança e respeito. Estamos a caminho da criação de híbridos de organismos vivos e artefactos fabricados. Os robôs podem ajudar os seres humanos e o autor nunca conheceu um robô de que não gostasse e "parece-me que todos "gostaram" de mim". Fala do declínio da civilidade e crescente grosseria da vida urbana e,dadas as circunstâncias,torna-se mais difícil do que jamais foi encorajar o público a promover e a defender uma lista de valores,direitos e obrigações que não sejam negociáveis. E,a quebra de privacidade que acompanha o uso universal da Web e das redes sociais garante a monitorização de cada gesto e ideia humana. E acrescenta:"todos os tipos de vigilância,desde a necessária por motivos de segurança pública até àquela que é intrusiva e mesmo abusiva,são agora uma realidade,praticadas,tanto pelo Governo como pelo setor privado,com total impunidade. A vigilância faz com que a espionagem,até mesmo a espionagem das superpotências,uma actividade estabelecida que nos acompanha desde há milénios,pareça honrada e infantil." A educação,no sentido mais vasto do tema,é o caminho óbvio a seguir,para criar ambientes saudáveis e socialmente produtivos,encorajando as virtudes morais clássicas - honestidade,bondade,empatia e compaixão,gratidão,modéstia. O autor cita Sigmund Freud e a sua coletânea de textos "O Mal-Estar na Civilização" e a correspondência de Freud com Albert Einstein,onde aquele acaba por confessar que o seu pessimismo provinha da condição internamente imperfeita do ser humano. Não atribuía culpas às culturas,nem a grupos específicos.Apenas culpava os seres humanos. Depois da 2ª Guerra Mundial,as Nações Unidas adoptaram a Declaração Universal dos Direitos do Homem,o mais próximo que temos do tão desejável,mas ainda inexistente,direito universal,que confere os mesmos direitos a todos os seres humanos.

-- E é assim! Sabe qual é um dos defeitos do autor? "eu sei,devia ser mais alto". Bom,por aí,estamos quites. Também eu gostava de chegar,por vezes,aos limões e às laranjas!

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"A Estranha Ordem das Coisas",de António Damásio. Um magnífico livro de um premiado e ilustre cientista português.Uma leitura útil,agradável,instrutiva e acessível a todos. Este excelente livro,está à venda em todo o lado. Até no supermercado onde eu faço as compras.