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NOTA 149 - MONOGRAFIA DE SESIMBRA - de Hernâni de Barros Bernardo
1 - Nas épocas esplendorosas de D.João II e de D.Manuel I,Sesimbra é o porto que oferece,ao lado de Setúbal e Palmela,filhos para as armadas que durante as conquistas do Além-Mar sulcaram os vastos oceanos,levando a civilização aos confins do mundo e fazendo subir Portugal a um dos primeiros lugares da História Universal.
2 - Sesimbra pode gabar-se que todos os Forais que obteve foram devidos à sua importância sob muitos e variados aspectos.
3 - O concelho de Sesimbra não tem de modo nenhum uma história insignificante;longe disso: ele constitui uma das páginas mais brilhantes da História portuguesa.
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"Monografia de Sesimbra" - estudo geo-económico do concelho,de Hernâni de Barros Bernardo,de 1941,é um dos melhores trabalhos- para não dizer o melhor - sobre as características geo-económicas do concelho de Sesimbra.Um estudo minucioso,completo,com utilização de vastíssima bibliografia,um trabalho científico que valoriza quem o fez e que,em boa hora,a Câmara Municipal de Sesimbra,então presidida pelo Major Engº Joaquim Matheus Preto Chagas,aceitou a oferta do autor para a sua publicação,com o objectivo "da minha terra possuir uma obra onde a sua história,a sua geografia e a sua economia estivessem reunidas:onde se vincasse a memória dos nossos antepassados ilustres,estimulando-se assim os sentimentos dos nossos vindoros;e onde,finalmente,os sesimbrenses pudessem com facilidade adquirir conhecimentos da terra que lhes foi berço."
"Monografia de Sesimbra",de Hernâni de Barros Bernardo,é um livro difícil de encontrar à venda,quer em livrarias clássicas,quer em livrarias alfarrabistas.Não só por ter sido publicado em 1941,mas,principalmente,porque é um magnífico livro sobre a região de Sesimbra. Seria boa ideia que,mais uma vez,a C.M.S. diligenciasse por conseguir uma nova edição desta excelente obra.
------ Sesimbra é uma das terras mais antigas de Portugal e embora o problema dos antecedentes históricos esteja por resolver,Sesimbra é hoje o resultado do conúbio de diferentes raças.O autor fala que a fundação de Sesimbra talvez se filie nos bérrios e nos sárrios,povos de origem duvidosa,possivelmente pré-selticos,sendo certo que por aqui poderão ter estado fenícios,turtedanos,gregos,caldeus,cartagineses,romanos,visigodos, sendo aos árabes que Sesimbra foi tomada com "restos de cruzados que por cá ficaram". Depois,seguiu-se a história,já melhor conhecida:a conquista do castelo de Sesimbra,em 1165 pelo rei D.Afonso Henriques;o Foral do rei D.Sancho I,em agosto de 1201;a criação do concelho de Sesimbra pelo rei D.Dinis,em 1323;o Foral do rei D.Manuel I,em 1514,entre outras datas importantes.
Sesimbra sempre foi uma terra de bravura e patriotismo e está excelentemente situada,quase no centro de uma costa difícil como é a da Arrábida - o "Mons Barbaricus" para os romanos.Entre o Espichel e Setúbal(40 km) a Serra da Arrábida é a mais estudada em Portugal.Sob o ponto de vista sismológico,é uma região instável embora o terramoto de 1755 não se tenha feito sentir no Cabo Espichel - o velho "Promunturium Barbárion" dos romanos - ao contrário do que sucedeu na vila e noutras regiões do concelho. Sesimbra é um concelho de reduzida altitude e a área do concelho com a região de Azeitão/Arrábida era de 350 km2,enquanto que agora é de 195 km2,o que continua a ser uma área importante e permite que,nomeadamente nas Freguesias do Castelo e da Quinta do Conde,continue o surto de desenvolvimento urbano com a construção de edificações de habitação,serviços,lazer e cultura.A título de exemplo dir-se-à que o concelho de Cascais tem 97 km2,Seixal 95km2,Almada 70 km2,Setúbal 230 km2,Barreiro 36 km2,Palmela 465 km2,etc.
No séc.XVIII as romarias do Cabo Espichel atingiram o seu maior explendor e no séc. XVII a fidalgia portuguesa distribui-se pela Arrábida,tendo sido construidos solares e fortins e boas quintas. Quanto á pesca,os romanos faziam pesca nas proximidades de Setúbal e no mar litoral da Arrábida e os mouros também praticavam a pesca na baía de Setúbal. Com o rei D.João I surge uma Carta de Privilégio a favor dos pescadores da vila de Sesimbra e com o rei D.João II uma Carta para os Mareantes da Ribeira.No séc.XVI a pesca atinge uma notável importância e no final do séx.XIX a pequena vila de Sesimbra tornou-se o principal porto pescarejo do nosso país,tanto em quantidade,como em qualidade. Mas o peixe começou a rarear e a importância de Sesimbra começou a diminuir.Em 1905,era o 5º porto de pesca em Portugal,segundo os dados oficiais,que não tinham porém em conta que grande parte do peixe entrado em Lisboa e Setúbal provinha das águas de Sesimbra. Assim,o renome de Sesimbra como centro pescatório tem razão de ser.O pescador português-e na vanguarda o sesimbrense-desempenha a sua actividade como poucos.Para o vice-almirante Sousa e Faro,citado pelo A.,são "os melhores do mundo,hábeis,intérpidos e profundamente dedicados à sua profissão". Sesimbra que,no começo da Monarquia,terá sido mais importante do que Setúbal,mas o sal,que Sesimbra não tinha,proporcionou a Setúbal importantíssimo comércio.
O A. cita o investigador sesimbrense sr. Joaquim Rumina para dizer que se a vegetação recobrisse as costas de Sesimbra,emoldurando a vila,teríamos em Portugal um novo Montreau.
Hernâni de Barros Bernardo fala dos processos de pesca e dos tipos de barcos,das zonas de pesca e das causas da fecundidade da zona de Sesimbra,uma das quais é o plâncton,descreve o trabalho marítimo e a necessidade de escolas de pesca e da construção do porto de Sesimbra,embora a baía de Sesimbra não tenha rebentação perigosa como a Figueira ou a Nazaré.Diz que o ciclone de fev./1941 destruiu mais de 300 barcos e fala dos peixes de Sesimbra,entre os quais a sardinha,o carapau,a pescada("a melhor de Portugal"),o peixe-espada,a corvina,o pargo e o goraz,o polvo,etc.
Refere-se á grande protecção do Marquês de Pombal-a sua 1ª esposa era de Sesimbra(Azeitão)-ao concelho de Sesimbra e diz que se verificou uma grande corrente de emigração nos sécs. XV e XVI,aquando dos Descobrimentos,em que o êxodo foi tão intenso que conseguiu desfalcá-la a menos de 2/3 da sua população anterior.
As indústrias actuais,as estradas,a baía e o porto de abrigo e as aptidões turísticas,são alguns dos muitos temas que o A. desenvolve neste trabalho,que,na data em que foi escrito,era o único estudo de conjunto sobre as condições geográficas e económicas do concelho de Sesimbra. Hoje,passados 77 anos,os tempos são outros. Sesimbra desenvolveu-se e,a dois passos de Lisboa,com bons acessos,tem todas as condições para ser um concelho moderno e desenvolvido. Mas esta "Monografia de Sesimbra" é,sem dúvida,um estudo fundamental sobre o concelho e,por isso,deve ter acesso fácil por parte dos sesimbrenses e de todos aqueles que pretendam conhecer o concelho de Sesimbra,desde a sua génese até aos dias de hoje. É um livro técnico.Um estudo geo-económico do concelho de Sesimbra. Foi publicado em 1941,durante a vigência do anterior regime político e em algumas passagens reflete essa circunstância.Mas isso para aqui é irrelevante.Um livro técnico,um quadro,uma pintura,uma escultura,etc.,valem o que valem,pela sua qualidade intrínseca e pelo seu valor enquanto obra de arte ou livro técnico-científico.