NOTA 148 - COISAS DE SESIMBRA - de António Reis Marques

Nos séculos XV e XVI a maior parte da sua população activa estava ligada às actividades marítimas,fosse tripulando as naus e caravelas das descobertas e conquistas de além mar,fosse na intensa vida pescatória ou no comércio do pescado que,conservado pelo sal e pelo fumo,se exportava para muitas e distantes terras.

Essa época,das mais gloriosas da história pátria,foi também aquela em que a nossa terra teve o seu fascínio,o período aúreo da sua existência.

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"Coisas de Sesimbra",de António Reis Marques,é um livro editado em junho de 2015,pela Câmara Municipal de Sesimbra,e que reune uma colectânea de 113 textos que,nos últimos 25 anos,o autor publicou em diversas revistas e jornais de Sesimbra. António Reis Marques é um ilustre sesimbrense,homem de cultura e de tertúlias literárias,que compartilha e compartilhou com outros ilustres intelectuais,como são os casos,por exemplo,de Agostinho da Silva,Rafael Monteiro,António Telmo e Pedro Martins,sendo autor de vários livros com temática sesimbrense.Para além disso,prestou relevantes serviços a Sesimbra,sendo responsável pela instalação e funcionamento da 1ª Biblioteca Municipal,está na origem do actual feriado municipal e do aparecimento das festas dos Santos Populares em Sesimbra,entre outras actividades meritórias que lhe são atribuidas.

Neste livro - Coisas de Sesimbra - temos mais de cem textos,todos com muito interesse,que versam sobre os mais diversos aspectos da vida sesimbrense.Desde as "cédulas municipais",aos "primeiros jornais de Sesimbra" e passando pelo "cão de água em Sesimbra",a "corporação marítima do Espírito Santo",os terramotos e a "sismicidade de Sesimbra",um "Presidente do Brasil em Sesimbra",a "antiga lota de Sesimbra",o "abastecimento de água a Sesimbra",a "estrada marginal",os "sesimbrenses na 1ª Guerra Mundial",o "hino e a canção de Sesimbra",o "rei D.Carlos e Sesimbra",etc.,são muitos e interessantes artigos que aqui estão publicados e cuja leitura dá a quem os ler uma visão muito ampla do que é Sesimbra hoje e do que foi ontem. 

No principal texto que publica sobre a história de Sesimbra e ao qual dá o título de "O Concelho que Minguou",faz uma excelente resenha histórica do concelho,desde a sua fundação,em 1323,pelo rei D.Dinis,até aos nossos dias,e,no final,conclui que "reduzido em quase um terço da sua primitiva superfície,o tempo dirá que novas alterações virão a verificar-se neste infeliz concelho."

Talvez escrito num dia nostálgico a parte final deste texto. Sesimbra,um "infeliz concelho" porquê ? Por ter perdido parte do território que o compunha? Então,Portugal,por ter perdido o Império Ultramarino é um país infeliz? A Inglaterra,a Espanha,a Holanda,a França,todos perderam parte dos territórios que possuíam,são países infelizes ? O concelho de Sesimbra,com 700 anos - faltam 5 - é um concelho com uma excelente história.E é o próprio António Reis Marques quem o diz,quando afirma que esta terra contribuiu grandemente para a época dos descobrimentos,uma das mais gloriosas da história pátria e o período áureo da existência do concelho.Como diz Hernâni de Barros Bernardo,na Monografia de Sesimbra,"o concelho de Sesimbra não tem de modo nenhum uma história insignificante;longe disso:ele constitui uma das páginas mais brilhantes da História Portuguesa"(pág.20).Ora,a redução da área do concelho de Sesimbra,não apaga esses feitos,nem a importância que Sesimbra teve no período mais importante da nossa história. Pode dizer-se que o concelho de Sesimbra é um concelho histórico e Sesimbra tem Foral quase há 817 anos.Tem,pois,obra feita em prol de Portugal e não é por ter menos área que esse facto deixa de ser relevante.Agora,as áreas dos concelhos,dos distritos,dos países,dos impérios,etc,são vicissitudes da história humana com as quais temos de lidar,sabendo que o hoje não é igual ao ontem,nem será igual ao amanhã.Claro que se percebe o que António Reis Marques quer dizer.Lamenta que o concelho de Sesimbra tenha diminuido de área.Mas Sesimbra deve orgulhar-se do que foi ontem,mas também do que é hoje,onde o desenvolvimento que se verifica em toda a sua área permite perspectivar um concelho moderno e perfeitamente integrado no Portugal do séc.XXI. Já agora,dir-se-à que Azeitão é que poderia dizer ter sido infeliz com o seu concelho,que foi criado em 1759 e extinto em 1855,tendo durado apenas 96 anos. Pode perguntar-se porque é que quando o concelho de Azeitão foi extinto em 1855,não regressou ao concelho de Sesimbra,onde tinha estado durante 436 anos(1323-1759) e foi agregado ao concelho de Setúbal. Bem! aí uma resposta possível é :poder! O poder político central decidiu dessa forma e Sesimbra não teve argumentos para se impor. Seja como fôr,o concelho de Sesimbra tem um largo e promissor futuro à sua frente,seja qual fôr a sua área,e uma história digna de uma municipalidade bem realizada.

No dia 03/07/2017 assisti na Fortaleza de Santiago,em Sesimbra,à cerimónia de lançamento da 2ª edição do livro "Agostinho da Silva em Sesimbra",do qual António Reis Marques é co-autor. Tive a oportunidade de cumprimentar,com todo o gosto,o António Reis Marques e a sua exma. esposa,e aqui fica vincado o meu grande apreço pelos valorosos escritos deste ilustre sesimbrense que é o António Reis Marques,a quem desejo longa vida e excelente saúde.

........................... "Coisas de Sesimbra",de António Reis Marques,é um magnífico livro que deve ser lido por muitos sesimbrenses e por todos aqueles que desejem conhecer as "Coisas" que caracterizam a "piscosa" cantada por Camões .