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NOTA 144 - AGOSTINHO DA SILVA EM SESIMBRA - de Pedro Martins e António Reis Marques
"Só há uma saída,e é bom lembrá-la no Natal,pois vem nos Evangelhos.Consiste em que o conselho antigo e supremo é o de que sejamos como as crianças - e é curiosa a inquietação dos psicólogos quando encontram em alguém traços do que chamam imaturidade ou infantilismo,o qual,felizmente,sempre têm encontrado nos meus testes.A criança,se tomada cedo - e eis o problema do jardim infantil - chega-nos incólume e com todas as qualidades de fantasia,jogo livre,seriedade de aplicação,absorção na ideia,que só encontramos,depois de adultos,nos chamados génios,isto é,nas crianças que a escola não destruiu(havendo imaturidades que,como no meu caso,não são génio.)"
- in "Baldio do Povo e de George Agostinho",citado a págs.70
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A 2ª edição do livro "Agostinho da Silva em Sesimbra",de Pedro Martins e António Reis Marques,foi apresentada no dia 3/7/2017,numa sala da Fortaleza de Santiago,em Sesimbra,à qual assisti,tendo depois adquirido um exemplar,autografado pelo Dr.Pedro Martins,ilustre advogado.
O livro está dividido em duas partes: a 1ª,que dá o título ao livro,da autoria de Pedro Martins,é a mais substancial;a 2ª parte,tem como título "Testemunhos de um Sesimbrense",e é seu autor António Reis Marques.
Quem foi Agostinho da Silva,o filósofo das "Conversas Vadias",de 1990,que a RTP Memória ainda vai transmitindo de vez em quando ? Podemos dizer,como o faz a wikipedia,que George Agostinho B.da Silva,nasceu no Porto,em 1906,faleceu em Lisboa,em 1994,e foi um filósofo,poeta,professor e ensaísta português,cujo pensamento combina elementos de panteísmo,milenarismo e ética da renúncia,afirmando a liberdade como a mais importante qualidade do ser humano.Agostinho da Silva pode ser considerado um filósofo prático, empenhado através da sua vida e obra,na mudança da sociedade.Passou considerável tempo da sua vida no Brasil.
Como o próprio título do livro dá a entender,nesta obra,o que se pretende,é dar uma ideia do que foi a ligação de Agostinho da Silva à vila de Sesimbra.E essa ligação abrange um período de tempo de cerca de 25 anos,entre 1969 e 1994,ano em que faleceu.Durante esse largo período de tempo,o filósofo portuense,esteve sempre presente,de alguma forma,em Sesimbra.E os primeiros contactos datam até da década de 1940,quando,com Orlando Ribeiro,que estava a concluir a sua dissertação de doutoramento sobre a Arrábida,na companhia de Agostinho da Silva,efectuou diversas expedições pedestres no espaço que vai de Sesimbra a Setúbal.
Agostinho da Silva tinha casa em Sesimbra.Habita primeiro no Bloco do Moinho e,depois,nos apartamentos da Praia da Califórnia. Efetuou 3 palestras em Sesimbra.A 1ª,na Sociedade Recreio Sesimbrense - o chamado "Refugo" -numa data entre 1941/2. A 2ª palestra foi em Dezembro de 1969 na Capela do Espírito Santo dos Mareantes,onde estava instalada a Biblioteca Municipal,e onde falou sem tema específico,da História,da vida e dos intelectuais. A 3ª palestra foi em 1988,na Escola Secundária de Sampaio,onde fala sobre Espinosa,filósofo da sua predilecção.
Agostinho da Silva tinha em Sesimbra um círculo de amigos,entre os quais se contavam António Reis Marques - que dá conta do seu convívio com Agostinho da Silva na 2ª parte do livro - Rafael Monteiro,o "castelão autodidata",que vendia antiguidades aos turistas,também chamado o "monge de Sesimbra" e o "castelão eremita",devido à vida isolada na casa do Castelo de Sesimbra; e António Telmo,sendo padrinho da sua filha Anahi,e que tinha casa em Santana, com quem esteve largo tempo no Brasil.
Agostinho da Silva era avesso a funerais.Mas era um homem corajoso.Conta-nos Telmo que,uma vez,no Brasil,andou de pé na asa de um avião,em pleno voo,para grande espanto do António Telmo. Agostinho da Silva chegava a Sesimbra na "carreira do Covas" -era assim que a população chamava à carreira entre Cacilhas e Sesimbra,através da estrada sinuosa e inclinada da Apostiça,concecionada á empresa Covas & Filhos,lda - e ia a pé para a sua residência.Também não era dado a homenagens e não gostava de notariedade.No dia em que devia receber a "Ordem da Liberdade",faltou á condecoração,e veio para Sesimbra,como nos diz Reis Marques,que o encontrou nesse dia no terminal das carreiras. E os gatos ? Agostinho da Silva vinha,por vezes,de Lisboa para Sesimbra "com o fito solitário de dar de comer à bicharada vadia que lhe circundava os aposentos de Argéis." Assistia ao leilão do peixe e em dada ocasião,em conversa com os pescadores "vocês são os descendentes desses sesimbrenses que correram mundo nas naus e caravelas dos Descobrimentos." Para Agostinho da Silva,Sesimbra,citada por Camões,ao lado das mais importantes cidades do reino do séc. XII (canto III,65) tinha 3 pontos fundamentais: O Santuário de Nossa Senhora do Cabo; O Castelo ; A Fortaleza de Santiago.
Agostinho da Silva,filósofo frugal,via o messianismo português a partir de Sesimbra. Sesimbra era "um caminho",com a sua "força cósmica",o Centro do Mundo ,o "lugar onde se não morre",que,porém,"está por toda a parte onde haja homens que,pensando e imaginando,desceram tão profundamente dentro de si próprios que tocaram aquele ponto do espírito para o qual convergem por infinitos raios as várias esferas que definem a actividade dos outros homens". Tinha uma visão comunitarista e era contra o individualismo feroz. Falava do anonimato dos arquitetos medievais e dizia que o movimento liberal oferecera ao povo "a liberdade de morrer de fome". A "História Secreta de Portugal",do seu amigo António Telmo,escrita à mesa do café,em Estremoz,é um dos 3 ou 4 grandes livros sobre Portugal - diz Agostinho da Silva. Mas também falava de uma "nova Ibéria",uma Península livre e una e do espírito universal. Utópico,visionário,sonhador ? Ao amigo Reis Marques ofereceu uma miniatura de um veleiro. E quando foi entrevistado para o jornal "Raio de Luz",em 1993,pelo José Pedro Guerreiro Xavier,pelo António Ladeira e pelo autor,que tinha acabado de se formar - foi aí que Pedro Martins conheceu pessoalmente Agostinho da Silva - não deixou de atirar,em jeito de aviso."É bom quando a gente se vê livre disso,do Direito". ( Henry David Thoreau,dizia:"É preferível cultivar o respeito do bem que o respeito pela lei" )
O nome numeral de Agostinho da Silva,referido neste livro,sabe qual é ? Será o 5 ?, o 8 ? ,o 15 ?,o 26 ?,o 51 ?,o 64 ? ou o 89 ? - É um deles,mas não lhe digo qual .Terá que folhear o livro para ficar a saber.Mas só faz bem se o fizer.Por certo que ficará a saber outras coisas interessantes sobre este filósofo português do séc. XX,um homem "empenhado,através da sua vida e obra,na mudança da sociedade". Como ele dizia," a direita me considera como de esquerda; esta como sendo eu inclinado à direita; o centro me tem por inexistente. Devo estar certo."
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"Agostinho da Silva em Sesimbra",de Pedro Martins e António Reis Marques,um excelente livro sobre a ligação de 1/4 de século,entre Sesimbra e este grande vulto da intelectualidade portuguesa do século passado.