NOTA 14 - 16 ANOS DE CORRIDAS - 16.000 km CORRIDOS
Entre os anos de 2000 a 2015, participei em 193 corridas e corri 16.038 km. Entre os meus 48 a 64 anos.
Quando comecei com esta brincadeira do jogging nunca imaginei correr tanto nem participar em tantas corridas.
Quando comecei,pensava que seria um passatempo para uns tempos,até me chatear com a corrida.Mas não.
Afinal,fui continuando a correr a acabei por chegar aqui a estes valores.Olhando para o tempo passado,creio que
ganhei com este esforço melhor saúde e disposição.
Aqui ficam algumas reflexões e pequenas histórias,provocadas pelo jogging e pelas corridas :
1 - Locais de Treino
Faz falta uma Pista de Atletismo em Sesimbra.A zona da Venda Nova/Carrasqueira era um bom local para implantar este
equipamento desportivo. O atletismo já não é um desporto praticado por uma minoria.Há todo o tipo de pessoas a praticarem
o jogging e o running,desde políticos,escritores,jornalistas,médicos,advogados,juízes,engenheiros,professores universitários,
empresários,trabalhadores,estudantes,grande número de mulheres,de todas as idades e profissões,pessoas de idade avançada,
elementos da população em geral,etc.. Mas é necessário que existam estruturas desportivas para a prática da corrida. Assim
como para a natação,é necessário uma piscina,para o ténis,um campo de ténis,para o golf,um campo de golf,para o futebol,
um campo de futebol,para o atletismo ,é necessária uma Pista de Atletismo. O concelho de Sesimbra necessita de uma pista
de atletismo.Só assim será possível chamar mais pessoas para a prática deste desporto,que é benéfico para a saúde. Até porque
também não existe no concelho,pelo menos na área de Sesimbra,um Parque com caminhos vocacionados para a prática do
jogging. Aliás,os concelhos vizinhos têm pista de atletismo.Almada,Seixal e Setúbal têm pista de atletismo.Porque é que Sesimbra
não há-de ter ?
2 - O Circuito de Cross e a Roda de Geógrafo
No local onde habitualmente treino,na zona da Venda Nova/Carrasqueira,existe um pinhal,extenso,que vai da Venda Nova até
á Apostiça,de ambos os lados da estrada que segue para Lisboa. Nos anos de 2003 a 2006,em que corri mais quilómetros,tal
deveu-se ao facto de,nesse pinhal,que tinha um piso duro e estável,pois não era mexido há muito tempo,eu próprio "construi"
um circuito de cross.Cortei ramos de arbustros,limpei o terreno e medi o tamanho do circuito. Pedi ao João Manuel Patrício,
que na altura estava na direção da Associação Desportiva da Cotovia (que já organizou várias vezes uma corrida - o Cabo Espichel-
-Cotovia - na distância aproximada de 15 km e onde participei em algumas edições) se me arranjava um aparelho para medir
o percurso.E arranjou. Suponho que pediu na Câmara Municipal de Sesimbra,uma roda de geógrafo,e,lá fui eu,com a roda de
geógrafo,medir o circuito de cross que tinha feito no pinhal. Medi várias vezes.Uma vez mais á esquerda,outra vez mais á
direita-já dava mais uns metros.É como numa pista de atletismo.A pista nº 1 mede 400 metros;mas as outras já medem mais...
Assim,fiquei a saber a distãncia que percorria em cada volta que dava ao circuito de cross.Entre 770 e 780 metros.
Tinha,pois,um bom local para treinar.Sem trânsito,sem poluição,sem confusões.Assim,até apetecia treinar.Estavam reunidas
boas condições de treino.Foi por isso que nesses anos corri mais quilómetros.Mas,claro,o pinhal era propriedade privada,e,
passados uns anos,o dono resolveu limpar e cortar o pinhal.Lá fiquei sem circuito de cross,porque as máquinas deram cabo
do terreno,que ficou mole,o que tornou impraticável continuar a treinar ali.Passei a treinar na berma da estrada.E passei a
treinar menos,precisamente porque as condições passaram a ser piores.
Assim se vê a falta que faz uma pista de atletismo aqui no concelho de Sesimbra,já que a pista é o local adequado para correr
sem trânsito,sem poluição e em segurança.
3 - Diário de Treino e Sapatos de Corrida
Sei que corri 15.000 km nestes últimos 15 anos porque tenho feito um Diário de Treino,onde anoto as distâncias que corro,
o tempo gasto e outras observações pertinentes. Se não fosse isso,hoje,punha-me a pensar e podia julgar que tinha corrido
12.000 ou 18.000 km ou outro número qualquer. Mas,com o Diário de Treino,sei que corri aquela distância,porque media
sempre os percursos que fazia e por isso os números não falham.Aliás pecam por defeito,se formos a contar com os quilómetros
dos "aquecimentos".Como se sabe,muitas vezes,antes de um treino ou de uma corrida,fazemos um aquecimento,que mais
não é do que uma corrida lenta,durante alguns minutos,para aquecer e preparar os músculos para o esforço que se segue.
Ora,o aquecimento pode demorar 5 minutos,mas também pode demorar 1/2 hora.Assim,podemos correr apenas algumas
dezenas ou centenas de metros ou,ao invés,alguns quilómetros,no aquecimento.Por isso,se fosse a contar com os quilómetros
dos aquecimentos teria que adicionar um largo número aos 15.200 km.
Mas o Diário de Treino também é importante para podermos controlar os quilómetros que fazemos com cada par de sapatos,
(um par de sapatos de corrida dura cerca de 500 a 600 km,em média,dependendo da qualidade e do tipo de corredor e piso)
e com isso,evitar lesões provocadas por sapatos gastos e sem amortecimento dos impactos,que,muitas vezes,á primeira vista
parecem que estão bons,mas,de facto,perderam a capacidade de amortecimento. E dou um exemplo com o meu próprio caso:
Um dos 1ºs sapatos que tive,no início da prática do jogging,foram uns "asics vigor".Excelentes sapatos,que me custaram na
altura 50 ou 60 euros. Só que eu corria,corria,e voltava a correr com aqueles sapatos e devo ter percorrido bastante mais de
1.000 km com eles. Acabei por me lesionar no tendão de aquiles,precisamente porque os "vigor" chegaram a um ponto em
que estavam completamente duros e não absorviam o impacto do pé no chão.Mas,á 1ª vista,ainda pareciam bons...
Foi uma das piores lesões que tive até hoje e demorou bastantes semanas para passar por completo.
4 - Dopping , Drogas e Medicamentos e Álcool
Em toda a minha vida nunca tomei drogas.Aliás,apesar de ser advogado há 30 e tal anos e de nos primeiros anos de
exercício da profissão,no tempo das Defesas Oficiosas,ter defendido e tirado da cadeia alguns toxicodependentes,nunca
vi droga "ao vivo".Só em jornais,revistas,televisão ou cinema.
Quanto a dopping,a mesma coisa.Nunca tomei produtos dopantes,produtos esses que nem sequer conheço,nem sei
quais são,para além de algumas informações que vou lendo nos jornais ou vejo na internet.
Quanto a medicamentos,há que dizer o seguinte.Nunca fui bom cliente para as farmácias.Sempre comprei poucos medicamentos
e em pequena quantidade.No dia a dia não tomo medicamentos.Por vezes,no inverno,quando estou constipado,lá compro
um antigripal (Ilvico) e pouco mais e usava por vezes um produto para descongestionar o nariz(vaposprai) que substitui há
uns 10 anos pelo Rhinomer,mas que raramente uso,pois melhorei da rinite.
Quando me lesionei no tendão de aquiles,por correr com sapatos gastos e sem amortecimento,o médico receitou-me o
anti-inflamatório "Voltaren" que é usado no tratamento da dor e da inflamação..E,de facto,o voltaren,faz efeito.Diminui ou
retira mesmo a dor e ajuda a combater a inflamação.Fiquei,pois,com boa impressão deste medicamento.Mas,também fiquei
de pé atrás,depois do episódio na Maratona de Londres,na 2º feira de manhã,e que vou contar mais á frente. Devo dizer
que o "Voltaren" costuma ter um stand de venda dos seus produtos(comprimidos,pomadas,etc.) nas grandes maratonas
internacionais.Tive possibilidade de constatar isso mesmo,salvo erro,em Londres e em Berlim.Portanto,fiquei com a ideia de que
será um produto bastante utilizado pelos corredores. Eu,pela minha parte,depois do "susto" que apanhei em Londres - não
sei se o voltaren teve alguma coisa a ver com isso - nunca mais tomei o voltaren durante mais de 3 ou 4 dias.Mas,nesse
espaço de tempo,voltei a utilizá-lo algumas vezes,nos fins de semana das maratonas e de algumas meias-maratonas.É
que o medicamento ajuda a suportar melhor as provas longas e a ter menos dores após essas provas.Para corridas até
10 ou 15 km,não se justifica nada disso.
Quanto ao álcool,o que é que posso dizer!Nunca fui grande consumidor de álcool,embora consumisse ás refeições,
principalmente ao fim de semana,algum vinho ou cerveja.De bebidas brancas( whisky,aguardentes,etc. ), sempre
fui pouco apreciador.Tive uma fase em que comprava e apreciava bons vinhos,como o "Barca Velha",mas há cerca
de 20 anos praticamente deixei de consumir álcool.
Quando me lembro de algumas situações mais aborrecidas que vivi,em vez do álcool,penso mais nas consequências
que a guerra poderá ter deixado-por vezes,alguma irritabilidade e ansiedade-,e que são propícias a aparecer nessas
situações menos normais.
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5 - Cinco Maratonas - Uma história de cada uma
MARATONA DE LISBOA
Em Portugal participei na 1ª Maratona Carlos Lopes ( Lisbon Gold Marathon ) em 17/4/2005. Cumpri um plano de treinos
específico e lá me apresentei na linha de partida.Recordo-me que nesse dia,foram outros corredores de Sesimbra á maratona.
E outros ainda foram á prova dos 10 km,entre os quais o Alfredo Zegre,que já faleceu,e com quem ás vezes treinava na Venda Nova.
Desejou-me boa sorte para a maratona ( óh doutor! boa sorte para a corrida!) ainda um bocado admirado de eu me aventurar a
tal empreitada de 42 km.Ele nunca correu nenhuma maratona.
Mas a Maratona de Lisboa correu-me bem.Tinha-me preparado e ia com confiança.Corri á vontade e em bom ritmo -para mim-
até cerca dos 25 / 30 km. A partir daí veio a quebra física,também provocada pelos maus abastecimentos.Aos 35 km,quando eu
lá passei,nem água havia.E,assim,tive de continuar.O ritmo foi caindo,caindo,mas nunca parei.Quando cheguei ao Parque das
Nações,lá ia eu no meu ritmo muito lento,até que avisto o abastecimento á entrada do Parque,com água e powerade.Agarrei uma
garrafa de powerade e bebi.Bem! ganhei uma nova vida.Parecia que tinha começado.Ainda ultrapassei alguns atletas e acabei
á vontade e com força.E pensei para comigo." hoje é que te tinhas tornado ultra-maratonista".
Foi a única maratona em que terminei bem e com vontade de continuar a correr.Nas outras 4 maratonas,estive sempre a
ver quando é que a meta aparecia á minha frente.
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MARATONA DE LONDRES
A maratona de Londres foi a primeira que fiz.E sobre essa maratona já escrevi uma "nota" aqui no facebook.Agora,o que quero
dizer é seguinte: na 2ª feira de manhã,a seguir á maratona,fui dar uma volta pela cidade com o meu filho Tiago.Apanhámos
o metro e quando chegámos á estação de destino,comecei a subir as escadas da estação,de acesso á superfície. Foi então
que,sem nada que o fizesse prever,quando eu estava a subir as escadas,o coração começa a bater muito depressa,o que
me obrigou a parar e a agarrar-me ao corrimão da escada.Assustei-me.Esperei um pouco,respirei fundo e lá continuei a subir
e não mais aquilo aconteceu.Nem disse nada ao meu filho.Mas assustei-me e pus-me a pensar.Que diabo! o que é que terá
provocado isto ? Será do esforço da maratona ? Alguma coisa que tomei ? E pensei no "voltaren".Era o único medicamento
que estava a tomar,pois tinha estado lesionado e o médico receitou-o.
Não sei se foi do esforço da maratona,do voltaren ou de outra coisa qualquer.O que é certo é que naquela manhã o meu
coração deu um alerta.E fiquei um pouco preocupado.Deixei de tomar o voltaren que já estava a tomar há 2 ou 3 semanas.
Nunca tal me tinha acontecido e nunca tal me voltou a acontecer.E já corri mais 4 maratonas. Mas,foi um aviso do qual
não mais me esqueci.Após isso,nunca mais tomei o voltaren durante mais de 3 ou 4 dias.
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MARATONA DE PARIS
A Maratona de Paris,em 9/4/2006,foi aquela em que fiz menos tempo: 4 h 1 m 42 s. Também aí apresentei-me á partida,
com a consciência do trabalho de casa feito.Cumpri um plano de treinos,que até vi no site da maratona de Paris, e comecei
a prova a apontar para as 4 h 10 m ou 4 h 15 m. Mas decidi ir um pouco mais depressa,para ver o que é que dava e até onde
é que aguentava um ritmo mais vivo. Estive quase a baixar das 4 horas,mas faltou o quase. Tinha que treinar mais. Os
últimos quilómetros foram difíceis,perdi força e ritmo.Faltou mais trabalho de treino para conseguir melhor tempo. Seja como
fôr,excedi as minhas espectativas,que eram,no melhor dos casos,4 h 10 m.
No sábado anterior á maratona,fui visitar alguns locais:uns,já conhecia,outros,não.O Louvre,o Centro George Pompidou, a
Torre Eiffel,La Défance,etc.,e ... o museu D´ Orsay - um pequeno museu,em tamanho,mas,para o meu gosto,um magnífico
museu,onde destaco as pinturas de Manet,Monet,Renoir,Degas,Gauguin,Van Gogh,Cézanne e Toulouse-Lautrec.
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MARATONA DE ROMA
Em 18/3/2007 fui á Maratona de Roma e,como sempre,cumpri um plano de treinos específico que me permitia enfrentar
a distância com a convicção de estar preparado para a correr. A ideia era,mais uma vez,concluir a prova á volta das
4 h 15 m. A maratona correu-me bem até aos 35 km. Até aos 30 km,duma maneira geral,as maratonas fazem-se sem
dificuldade de maior.Diz-se até que a maratona começa depois dos 30 km,precisamente porque é a partir dessa distãncia,
que mais se faz sentir a dureza e a dificuldade da corrida.
Quando cheguei aos 30 km,bem disposto,com força e ânimo,estava convencido que ia fazer um tempo semelhante ao
de Lisboa e ao de Paris.Mas nós,numa maratona,nunca nos podemos convencer de nada.Só quando chegamos á meta é que
podemos dizer como foi. Assim,como me sentia bem,passei pelos 30 km e,chegado ao abastecimento dos 35 km ,vi muitos
atletas nas mesas,e como me sentia bem,decidi não parar.Ou seja,não parei no abastecimento dos 35 km. Foi a pior asneira
que fiz. Porque,passados mais 15 minutos,lá para o quilómetro 39,comecei a fraquejar,as forças começaram a faltar,queria
correr e faltava energia,até que ... tive que andar durante algum tempo. Lembrei-me do abastecimento. E agora! ali não
havia nada,nem água,nem powerade,nem fruta,nem barras de cereais. Lá continuei em direcção á meta e não encontrei
mais nenhum abastecimento.Corria um bocado... andava um bocado. Quando faltavam talvez uns 700 metros,lá consegui
correr até á chegada e cortar a meta em 4 h 10 m 16 s. Mas tinha feito menos tempo se tenho parado no abastecimento dos
35 km,bebido água ou powerade e comido qualquer coisa. Numa maratona,uma prova tão desgastante e longa,a alimentação
e a hidratação são fundamentais.
A cidade de Roma tem quase 3 mil anos de história. A língua romana,o latim,dominou durante cerca de 2.000 anos. O
Direito Romano inspirou os Códigos de todo o Ocidente. A Arte e a Arquitectura romanas foram modelos durante muitos séculos.
A influência de Roma,primeiro como centro do Império Romano,depois como sede da cristandade,não tem igual na história ocidental.
Aproveitei a sábado anterior á maratona para visitar a cidade.Tive oportunidade de estar no Foro Romano,no Coliseu de Roma,
junto ao qual foi dada a partida da maratona,visitei a Fonte de Trevi e outras,a Ponte de Sant´Angelo junto ao castelo com o mesmo
nome,as Praças de Espanha e Novara e outros locais de interesse turístico dessa magnífica cidade.E visitei a cidade do Vaticano -
a Praça de S.Pedro,a Basílica de S.Pedro e os Museus Vaticanos.
O destaque que aqui quero deixar vai sem dúvida,para os museus do Vaticano. A Capela Cistina,com as pinturas de Miguel
Ângelo e as diversas salas de Rafael,onde,na Sala das Assinaturas,lá estava o magnífico quadro "A Escola de Atenas", grande
alegoria da filosofia antiga que antecipa e prepara o Cristianismo,entre outras pinturas notáveis.É difícil não ficar admirado e
surpreendido por obras tão grandiosas.O hotel onde fiquei estava perto da Basílica Santa Maria Maior,que,por isso,visitei
mais do que uma vez.
Roma,é uma cidade fascinante.Ter tido a possibilidade de conhecer esta soberba cidade e,ao mesmo tempo,correr a Maratona
de Roma,num fim de semana turístico-desportivo,foi uma boa experiência que não esquecerei.É que,posso voltar a Roma.Mas,
voltar a Roma e correr a maratona de Roma,isso é que já não se vai repetir.
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MARATONA DE BARCELONA
A 5ª maratona em que participei foi a Maratona de Barcelona,em 1/3/2009 e que conclui no tempo de 4 h 27 m 26 s.
Tinha estado em Barcelona há quase 30 anos,por razões nada agradáveis,pois teve a ver com a visita a um médico oncologista
por parte do meu pai que se encontrava doente com essa terrível doença que acabou por o vitimar.Por isso,a recordação que
tinha da cidade era algo vaga,sendo certo que,nessa altura,Barcelona ainda não era a cidade moderna e cosmopolita que é hoje.
Voltei lá agora,quase 30 anos passados,para correr a maratona. As voltas que a vida dá ! Para mim,era impensável que isto
podesse acontecer,mas a vida tem destas coisas.
Lesionei-me na parte final da preparação da maratona,Uma micro rotura muscular.E um dos joelhos também apresentava
razões de queixa,tudo derivado do esforço provocado pelos treinos. Quando fui para Barcelona não tinha a certeza de concluir
a prova.Não sabia como é que iria reagir durante a prova.Passou-se o mesmo que já se tinha passado na maratona de Londres.
Pensei:corro,e logo vejo como é que a corrida vai indo. Aos 10 km a corrida passava junto ao hotel onde estava hospedado.
Cheguei a pensar: começo a maratona e se não me sentir bem durante os 1ºs 10 km,fico logo aqui no hotel. Lá comecei com
muito cuidado e pareceu-me que talvez aguentasse e,por isso,aos 10 km não parei no hotel.Continuei em prova.Sempre
preocupado,sempre apreensivo.Mas lá ia indo.Só queria chegar ao fim. 30 anos depois de ter estado em Barcelona,ali estava
eu,a correr a maratona.O que a vida nos reserva!
Fui correndo sempre com muito cuidado.O tempo não interessava.Interessava era chegar ao fim.15 km,20 km,25 km. Aos 30 km,
mais ou menos,já estava convencido que ia chegar ao fim.A lesão não era impeditiva disso.E não me enganei.Fui com calma.
A pouco e pouco os quilómetros iam passando e a meta já não era uma miragem.Como sempre,os últimos quilómetros são os mais
complicados.Mas temos que aguentar.É uma questão de força de vontade e sacrifício.Nunca parei.Nunca andei.Corri sempre.
Mais depressa ou mais devagar,mas corri sempre.Cheguei á meta depois de ter estado a correr,ininterruptamente,durante
4 h 27 m 26 s. Fiquei contente.Tinha ganho a corrida.Todo aquele que termina uma maratona,é um vencedor. Foi assim
que me senti. Estava prestada a homenagem que eu queria prestar.
Barcelona,hoje,é uma cidade notável,moderna e cosmopolita,com muitos locais de interesse turístico.É a cidade de
Antoni Gaudi (1852-1926), o maior representante do modernismo catalão e autor de obras sublimes como a Casa Milá
(La Pedrera), La Maison Batilló,La Parc Guell,a Casa Calvet e,a maior de todas,o Templo da Sagreda Família,magnífica e
exuberante Catedral cuja construção já dura há 128 anos e cujas previsões de conclusão são para o ano 2026.
Mas, Gaudi costumava dizer : " o meu Cliente não tem pressa... " .
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NOTA 9 - NA MARATONA DE LONDRES
A vida reserva-nos cada surpresa! ... vou falar de uma agradável.
Há alguns anos descobri que se realizavam um pouco por todo o país provas de atletismo abertas a todos:profissionais,
amadores, e simples corredores de fim de semana. Sempre gostei de praticar desporto,embora de uma forma individual e pouco
metódica.Desde pequeno que gosto de nadar na praia de Sesimbra ou numa piscina,ou andar de bicicleta ou fazer o meu jogging
de fim de semana.Mas foi para mim uma surpresa a descoberta destas corridas,a primeira das quais foi a mini-maratona da ponte
25 de Abril,em março de 2000.A travessia da ponte,a correr,no meio de todas aquelas pessoas que ali estavam a praticar desporto,
com alegria e satisfação,foi uma experiência muito agradável.Tão agradável que não mais parei de participar em outras provas,um
pouco por todo o país,tendo já estado em Peniche na Corrida das Fogueiras,por diversas vezes,na Meia-Maratona da Nazaré,na
Meia-Maratona de Lisboa e até fui aos 20 km de Paris,uma bela prova disputada junto á Torre Eiffel.
A dado momento,depois de ter visto a transmissão da prova na televisão,comecei a pensar em ir á Maratona de Londres.A maratona
de Londres realiza-se desde 1981 e é considerada,a par com a Maratona de Nova York,como uma das melhores corridas do mundo,
pela sua organização,pelo número de participantes,pelo entusiasmo que a rodeia e pelos resultados obtidos pelos atletas profissionais.
Mas,também pensei,já tenho 52 anos,nunca me meti nestas aventuras e uma maratona são 42 km.Não é para brincadeiras. Já as
meias-maratonas,que são 21 km,custam o que custam,quanto mais não será com uma maratona.O que é certo é que aquele desejo
nunca mais me abandonou.Até que comecei mesmo a levar a sério a ida á maratona.Arramjei um "plano de treinos" adequado e
preparei-me para o cumprir.E assim foi.
Durante os meses de janeiro,fevereiro e março,com chuva,frio ou vento,lá ia eu treinar de acordo com o plano.Foram muitos quilómetros
a correr.Em janeiro-184 km;em fevereiro-230 km;em março-250 km.Por fim,como seria natural,estava cansado e acabei por me lesionar.
Mas não desisti.Se tinha ido até ali,também iria até ao fim.A lesão atenuou-se e chegado a 16 de abril de 2004 lá parti para Londres,
esperançado que tudo corresse bem.
Chegado a Londres,fui levantar o dorsal á Feira da Maratona,que é de facto espectacular.Uma autêntica feira de desporto da corrida.
Mais de 100 stands com vestuário desportivo,calçado,alimentos,um restaurante de pasta-party sempre a funcionar.A melhor e a maior
feira do Reino Unido.
O domingo,18 de abril,dia da maratona,amanheceu chuvoso e com muito frio.Fomos conduzidos para o local da partida,situado em
Greenwich Park,um magnífico parque,onde tinhamos á discrição,água e bebidas isotónicas.
Pontualmente,á hora marcada,lá partimos para a grande aventura.Mais de 32.000 atletas fizeram-se á estrada para tentarem concluir
os 42 km da prova.A alegria e o entusiasmo não eram arrefecidos pela chuva e pelo frio que se fazia sentir.Ao fim de 11 km,chegamos
junto ao barco Cutty Sark,depois de termos dado a volta a Greenwich e Charlton.O entusiasmo popular que se faz sentir durante todo
o percurso é uma imagem de marca desta prova.Desde a partida até á chegada,as estradas,em muitos locais,estão rodeadas por
milhares de pessoas que aplaudem e incentivam à passagem dos atletas.Para além disso,existem muitos grupos musicais a tocar,e
bares com música ligada para o exterior.Aos 20 km chegámos á Tower Bridge,apinhada de gente por todos os lados,que aplaudem
sem cessar todos os concorrentes.A partir daí,só falta outro tanto.É preciso é calma.Vamos correndo no meio daquela multidão de
atletas que enche por completo a estrada á nossa frente.E a prova ia a correr bem.A perna direita dizia-me que o problema muscular
lá estava,mas que,se eu fosse naquele ritmo,concerteza que chegava ao fim.Era conveniente não me entusiasmar e acelerar o
andamento,porque dessa forma podia aparecer o sinal vermelho.E assim foi.Nós temos que ouvir o nosso corpo.Se ele diz,corre mas
com cuidado,temos que obedecer,pois se corrermos como se estivessemos a 100%,iremos pagar a factura mais tarde.
E o que é certo é que os quilómetros iam passando,e um pouco mais á frente já estávamos na zona do Canary,com imensa mole
humana a aplaudir os atletas.Os abastecimentos durante a prova são fantásticos.Água com muita abundância e grande frequência,
e entre os postos de água,postos de bebidas isotónicas e ainda postos com variadas frutas.Existe apoio médico ao longo do percurso,
e muitos atletas solicitam os serviços desses postos médicos,mas a maior parte lá segue no seu ritmo cadenciado,rumo á meta.
E a meta cada vez mais perto.Já iamos no Victoria Embankment,ao longo do rio Tamisa.Era só manter o ritmo,mais um pouco.
Lá á frente,já se divisava Westminster e o London Eye.Já faltava pouco.Alguns iam parando e passavam a andar.Eu,lá continuava.
Sem parar.
Até que,com mais de 4 h de corrida,me aproximo do Palácio de Buckingham,descrevo a última curva e vejo a meta instalada lá
ao fundo.São os últimos metros.É grande a alegria.O último esforço é feito e quando atravesso a linha da chegada,depois de
percorrer 42,195 km,sem parar,fazendo parte daquela imensa multidão de atletas,que no ano de 2004 - ano do Euro em Portugal,
e dos Jogos Olímpicos,na Grécia - constituiram o pelotão da Maratona de Londres,a satisfação e o entusiasmo que sentimos é
inolvidável.
E aí vem a medalha ! É,de fscto,uma experiência inesquecível.Aqueles que praticam jogging e participam nas provas que se
realizam em Portugal,se poderem,treinem e vão á maratona de Londres.Vale bem a pena.
Participarm na Maratona de Londres 2004 : á partida - 32.099 atletas ; á chegada - 31.796 ;desistiram - 303 .
Eu demorei 4 h 14 m 24 s a concluir a prova e fiquei no lugar 14.588.
Pratiquem desporto! Boa saúde!
(Publicado no jornal "O Sesimbrense" em 26/05/2004)
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NOTA 18 -" CEM ANOS DE MARATONAS EM PORTUGAL" - por António Manuel Fernandes
Existem actualmente em Portugal,um pouco mais de mil maratonistas.Um deles sou eu.Tenho todo o gosto em falar um pouco deste livro.
(Quando escrevi este comentário,em dezembro de 2010,era assim.Mas hoje,o número de maratonistas portugueses aumentou muito,
devendo situar-se agora,maio de 2015,entre 5.000 a 6.000).
António Manuel Fernandes é jornalista e faz parte da "equipa" da Xistarca,que é uma empresa de organização de eventos desportivos
em Portugal e que organiza uma boa parte das corridas que se realizam aos fins de semana,um pouco por todo o lado.É director da
revista Atletismo desde 1998 e já correu diversas maratonas.
"Cem Anos de Maratonas em Portugal" é um pequeno livro(160 págs.),editado em novembro de 2010.Comprei-o na feira da maratona
de Lisboa,no dia 4/12/2010.Estava lá o autor,pelo que tenho um exemplar autografado:" a Alfredo Pinhal com desejos de boas corridas".
O livro começa por fazer a história do surgimento da maratona,fala da batalha da maratona e conta a vitória de Spiridon Louis,primeiro
campeão olímpico,descreve o estabelecimento da actual quilometragem(42,195 km)nos Jogos Olímpicos de 1908,em Londres,e a
entrada das mulheres,com a francesa Marie-Louise Ledru,em 29/8/1918,em Paris.
Em Portugal,a 1ª maratona oficial,realizou-se em 2/5/1910,num percurso com 42,800 km,em Lisboa,tendo triunfado Francisco Lázaro,
com o tempo de 2 h 57 m 35 s.Dos 12 concorrentes á partida,2 desistiram.Francisco Lázaro viria a falecer durante a maratona dos
Jogos Olímpicos de Estocolmo,em 1912.,devido a insolação,aos 30 km da prova.O livro conta como se passou esse triste acontecimento.
Depois,avança-se no tempo e são referidos os nomes e os feitos de outros maratonistas,como,por exemplo,Manuel Dias("era um
fundista completo,triunfava em todas as distâncias");Manuel Gonçalves("dominou após a 2ª Grande Guerra");José Araújo("na maratona
dos Campeonatos da Europa de Berna,em 1954,ficou em 8º lugar,depois de ter comandado a prova até ao quilómetro 38,mas,a partir
daquela altura,baixou de rendimento e fez mesmo mais de um km a passo,terminando com o tempo de 2 h 29 m 25 s.Mas,José Araújo
viria a triunfar diversas vezes na maratona nacional,fixando o recorde nacional em 2 h 28 m 40 s,em 1957.
Pouco depois surge na maratona Armando Aldegalega "um foguete vindo de Setúbal",que marcou um capítulo inteiro na história da
maratona,obtendo 10 títulos nacionais e fixando o record nacional em 2 h 20 m 1 s,tendo ganho a maratona dos Jogos Ibero-Americanos
de Madrid,em 1962.Aliás,o autor considera Armando Aldegalega "o melhor maratonista nacional de sempre".
A propósito de Armando Aldegalega,não resisto a contar aqui uma história.Já me encontrei,e cumprimentei o Armando Aldagalega,
em diversas ocasiões,durante as corridas em que tenho participado.Mas na XV Corrida dos Reis,na Ilha do Pico,Açores,,em 16/1/2005,
onde participei,ele também lá estava.Nessa corrida,foi a única vez em que ganhei uma medalha "de classificação".Fui 10º no meu
escalão de veteranos.E tive todo o gosto em ir ao palco receber a minha medalha e cumprimentar,entre outros,o Armando Aldegalega,
que tinha sido um dos 1ºs do escalão dele.Eu,pela minha parte,sempre fui,apenas,um modesto corredor de pelotão,para quem a
corrida é praticada somente com intuito de manutenção física e de saúde,e não de competição.
Mas,já agora que estamos em maré de histórias,nessa mesma Corrida dos Reis,também lá estava o Fernando Mamede,que era o
"padrinho" da prova nesse ano.Já no regresso da Ilha do Pico,no barco,dirigi-me ao Fernando Mamede,dei-lhe os parabéns pelos
seus êxitos como atleta,e perguntei-lhe em que dia tinha nascido.- "nasci no dia 1 de novembro",disse ele; de que ano -perguntei eu.
-"de 1951"-respondeu o Fernando Mamede. -Olhe ! eu nasci no mesmo dia que você: 1 de novembro de 1951.
Ficou admirado,mas é verdade.Não é todos os dias que encontramos uma pessoa que nasceu no mesmo dia que nós.
O livro continua depois a referir mais nomes de maratonistas e os seus principais feitos: Rosa Mota ("figura incontornável da história
da maratona mundial,que ganhou a 1ª medalha de ouro na Maratona de Atenas dos Campeonatos da Europa,em 12/9/1982").O livro
refere todas as outras vitórias da Rosa Mota ; Carlos Lopes que em 1984,em Roterdão,venceu com 2 h 7 m 12 s,novo record mundial,
e que foi Campeão Olímpico em Los Angeles,em 1976,com 2 h 9 m 21 s.O livro também refere as outras vitórias de Carlos Lopes ;
Fernando Mamede,recordista mundial dos 10000 metros,não seguiu para a maratona.Desistiu na 1ª(e única) maratona que se propôs
fazer ; Manuela Machado("sempre de sorriso rasgado de orelha a orelha")que,entre outras vitórias,conseguiu a medalha de ouro no
Mundial de Gotemburgo,em 1995 ; Manuel Matias,que triunfou na Maratona de Paris,em 1998 ; António Pinto,que venceu por 3 vezes
a Maratona de Londres e 1 vez a Maratona de Berlim ; Domingos Castro,que em 1997 venceu a Maratona de Roterdão e ... o livro
continua a descrever outros maratonistas e seus feitos.
Em 2004 surge a Maratona do Porto,a par das maratonas que se realizavam em Lisboa e começam a aparecer mais atletas
populares a correr a distância.Em 2005 "nasce" a Maratona Carlos Lopes,que nunca teve uma boa organização no terreno,mas
"fica para a história a estreia da prova com 249 concorrentes(um deles,fui eu),75 estrangeiros,numa organização que teve momentos
muito fracos,mesmo a nível dos abastecimentos".
Em 2007,existiam em Portugal cerca de 700 maratonistas,número que em 2010 poderá ter subido um pouco acima da fasquia dos
1.000 maratonistas.(como já disse,um pouco mais a cima,hoje,maio de 2015,o número de maratonistas portugueses é bastante
superior,talvez á volta dos 5.000 a 6.000 maratonistas).
A maratona é uma prova difícil,exigente,e requer força de vontade e espírito de sacrifício para cumprir um plano de treinos correcto,
e,depois,fazer a prova,com convicção e empenhamento.
Correr e completar uma maratona,num tempo aceitável,não é para super-homens;mas também não é fácil.
É por isso que,os maratonistas,quando chegam ao fim,festejam e sentem-se vencedores,seja qual fôr o lugar em que chegaram.
Todos os maratonistas portugueses devem ler este livro!
Afinal,ele fala da Maratona,e nós devemos conhecer aquilo que fazemos.
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