NOTA 139 - PORTUGAL,um PERFIL HISTÓRICO - de Pedro Calafate

1 - Uma análise dos caminhos onde se inscrevem as etapas da consciência histórica 
    do povo português,por alguns dos intelectuais que mais decididamente marcaram o 
 sentido e configuração deste percurso.
2 - Uma série de tópicos delineados no tempo da longa duração,de modo a construir um
espaço articulado de reflexões sobre Portugal e os portugueses.
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" Portugal,um Perfil Histórico",escrito por Pedro Calafate,é um pequeno livro,de cerca de 100 págs.,
editado em Novembro de 2016,pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS),na colecção
"Ensaios da Fundação",que já leva publicados,com este,69 exemplares. A colecção "Ensaios da
Fundação" coloca ao dispor do público,livros pequenos,mas de qualidade incontestável,que abordam
os mais variados temas e que permitem,após uma leitura relativamente breve,um conhecimento melhor
e mais actualizado,sobre assuntos e temas de interesse geral. Alguns exemplos de outros ensaios:
Política Externa Portuguesa;O Dinheiro;Rússia e Europa-Uma Parte do Todo;Portugal e o Espaço;
O Futuro da União Europeia;Portugal e o Atlântico;A Democracia na Europa;Ambiente em Portugal;
O Valor da Arte;Crise e Crises em Portugal;O Euro e o Crescimento Económico;Portugal e o Comér-
cio Internacional;etc. Estes livros da FFMS custam 3,15 euros e são uma boa opção de leitura sobre
 estes temas. 
O autor do ensaio "Portugal,um Perfil Histórico",é o prof. Pedro Calafate,licenciado em História,
Mestre e Doutor em Filosofia ,prof. catedrático da FLUL,autor de diversas obras importantes,como
História do Pensamento Filosófico Português(dir.) em 5 vols.,e Portugal como Problema,em 4 vols.
Vejamos então alguns dos tópicos das etapas da consciência histórica do povo português,de que
fala o autor. Foi na Idade Média e no Renascimento que se deu a génese do destino colectivo do
povo português,sendo de salientar o mito do herói fundador D.Afonso Henriques,que deu origem
a um sentimento de corpo coevo como condição de unidade,uma vontade firme do "comum povo
livre e não sujeito",de que fala Fernão Lopes. Mais tarde surge a ideia da Europa como "irmandade
de sabedores",fundada em "letras comuns",referida pelo infante D.Pedro no Livro da Virtuosa Benfeitoria,
e pelo infante D.Duarte,seu irmão,no livro Leal Conselheiro,e a ideia da "sociedade de povos da Europa"
do abade de Saint-Pierre e de J.J. Rousseau,ideia que se situava "acima das pátrias nacionais".
Os Descobrimentos portugueses e o Império que se lhe seguiu,corporizando a 1ª globalização. O
encontro com a China,como civilização mais antiga e de apurado requinte cultural,como referem
João de Barros nas "Décadas da Ásia" e Fernão Mendes Pinto na "Peregrinação". Camões e o
orgulho dos feitos heróicos dos portugueses,mas também a indignação e a reprovação moral da
vaidade e da cobiça. Camões que teve que mendigar para sustentar a velhice,triste e desalentada.
A ideia de Portugal em António Vieira - vocação providencial de Portugal "ser luz do mundo". A
Europa era então a "cabeça do mundo" e Lisboa "os olhos da Europa". O iluminismo em Luís António
Verney e no seu livro "Verdadeiro Método de Estudar",acusando o país de incultura e ignorância e
desalento perante a outra Europa,onde pontificavam os gigantes como Galileu,Bacon,Descartes,
Gassendo,Newton,Locke. Os privilégios injustificados e a desigualdade perante a lei,em António
Ribeiro Sanches,ou a federação ibérica proposta por Antero do Quental,mas não acolhida por
Oliveira Martins. Andrade Corvo e a necessidade de existência de princípios fundamentais de
direito internacional,ou Fernando Pessoa e Portugal como país mal desnacionalizado,onde faltava
uma "República Aristocrática" e um super-Camões,para nos tirar do marasmo e da debilidade do
"Portugal-centavos"... ;António Sérgio e o seu idealismo racionalista crítico,um neo-iluminismo
cultural,que via nas nações um factor de limitação,pois o que verdadeiramente existe é "a Humani-
dade e o papel de cada nação na História da Humanidade". E Jorge Borges de Macedo,com a sua
atitude de equilíbrio,crítico das posições de António Sérgio,e para quem a Europa sempre teve ao
longo da sua História,uma mensagem universalista e particularista,e não se deve esmagar a segunta
face à primeira.
Em conclusão,Pedro Calafate,em "Portugal,um Perfil Histórico",mostra a elaboração de mitos 
fundadores,a emergência de uma consciência colectiva,os primeiros passos da nossa consciência
de nação europeia,os atavismos da sociedade portuguesa,a queda de uma posição de ufanismo
lusocêntrico para a do elogio de um modelo de racionalidade e de cultura identificado com a 
Europa das Luzes,a ideia da decadência,fruto de reformas mal conseguidas,a busca da nossa
lusitanidade íntima através do pensamento poético de Fernando Pessoa,ou o racionalismo
idealista de António Sérgio,versus a reflexão sobre a história pátria face aos desafios da
integração europeia,de Jorge Borges de Macedo.
................................................................................. "Portugal,um Perfil Histórico" ,de Pedro Calafate,
um pequeno-grande livro,com tópicos importantes da História de Portugal,ponto de partida para o
percurso crítico de cada leitor - como se diz a fechar o texto.