NOTA 130 - A GRANDE SEPARAÇÃO - de Mark Lilla

1 - O livro " A Grande Separação " debate e examina a tensão existente entre religião e política,
que se prolongou por quatrocentos anos no Ocidente,começando na Inglaterra do séc. XVII e
acabando na Alemanha do séc. XX.
2 - A actual escolha que as sociedades contemporâneas enfrentam não é entre o passado e o
presente,ou entre o Ocidente e "o resto". É entre duas grandes tradições de pensamento,duas
maneiras de considerar a condição humana.
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" A Grande Separação - Religião,Política e o Ocidente Moderno ",livro publicado em 2007,foi escrito por
Mark Lilla,professor universitário americano,da Universidade de Columbia,nascido em 1956,e analiza a
problemática entre a vida política e religiosa,no Ocidente,entre os sécs. XVII e XX,e baseia-se nas
Conferências Carlyle, que o autor fez na Universidade de Oxford,em 2003.
A religião é algo que "acontece" aos seres humanos,brotando da ignorância e do medo ou surgindo como
uma expressão mítica da consciência colectiva de uma sociedade. E a vida política gira á volta de disputas sobre
 a autoridade : quem é que pode legitimamente exercer o poder sobre os outros,com que fins e sob que condições.
A filosofia política desenvolveu-se primeiro na Grécia antiga e a igreja primitiva era uma seita apocaliptica perseguida,
vivendo pobremente e,de alguma maneira,em comunidade num grande império pagão. O Evangelho é um chamamento
feito acima das nações e dos governantes,um chamamento á associação com outros membros da igreja em culto,não
para construir um novo tipo de ordem política.
A ciência moderna quebrou um laço antiquíssimo entre Deus e o homem. O homem moderno vive com uma série
de hipóteses acerca do cosmos,continuamente em mudança,e tem de se resignar perante o facto de que,qualquer
que seja o quadro que ele considere adequado hoje,provavelmente esse quadro será tido como inadequado amanhã.
O Judaismo retrata-se como a superação do paganismo do Próximo Oriente pela nação escolhida por Deus ; o
Cristianismo é a superação do ritualismo e narcisismos judaicos,trazendo a salvação a todas as nações ; o
Protestantismo é a "última religião",tentando reconsiliar todas as tensões e contradições da mente humana ; e o
Islão é a superação da infidelidade ao Deus único e ao seu profeta.
O medo,a ignorância e o desejo são as motivações básicas de toda a actividade humana,política e religiosa. E a
condição social natural da humanidade é a de um estado perpétuo de disponibilidade para o conflito.(T. Hobbes)
Aqueles que estabeleceram os princípios da Grande Separação não refutaram a existência de uma conexão
divina ... ensinaram uma nova arte de pensar sobre a poítica sem referência a tais assuntos para que fosse
possível construir uma ordem política decente,livre da violência religiosa.
O autor cita Sócrates,na "República" de Platão,para dizer que " a não ser que a sagacidade filosófica e o poder
político coincidam naqueles que governam,não haverá fim para os males que cercam a humanidade." 
Embora tornando a Igreja subordinada ao Estado,a religião não pode e não deve ser abolida,uma vez que
"para o povo",a característica específica da vida justa e ética tem a confirmação fundamental apenas sob a
forma de uma religião existente.(Hegel)
Nomes ligados á "Grande Separação" de que fala o autor,são,entre outros,Thomas Hobbes,John Locke,
David Hume,Jean-Jacques Rousseau,Immanuel Kant,Hegel e Espinosa,sobre os quais Mark Lilla fala com
profusão,explicando assim como se processou a Grande Separação no campo das ideias e da filosofia política.
E também fala de " uma religião moral universal baseada na consciência " (Rousseau), ou então,como dizia
Kant, " um dia só haverá um pastor e um rebanho " .
E,para aqueles que aceitaram a herança da Grande Separação - como é o caso do autor - o desafio é
restringir a nossa política à protecção dos indivíduos relativamente aos piores danos que eles possam
infligir uns aos outros,ao assegurar de liberdades fundamentais e à provisão do bem estar essencial,ao
mesmo tempo que deixamos os destinos espirituais dos indivíduos nas suas próprias mãos.