NOTA 119 - SE ISTO É UM HOMEM - de Primo Levi

       1 - A necessidade de contar aos "outros",de tornar os "outros" conscientes,tomara em nós,antes e depois
              da libertação,o carácter de um impulso imediato e violento,ao ponto de rivalizar com as outras necessi-
                dades primárias: o livro foi escrito para satisfazer essas necessidades(...) Nenhum dos factos é inventado.
2 - Ter regressado de Auschwitz não foi uma pequena sorte.
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O livro "Se Isto É Um Homem",escrito por Primo Levi em 1947,relata a vida do autor,enquanto esteve preso no
campo de concentração nazi de Auschwitz,na Polónia,durante a 2ª Guerra Mundial,nos anos de 1944 e 1945.
Primo Levi é um dos mais importantes escritores italianos do pós-guerra.Nasceu em Turim em 1919 e,diz-se
na badana do livro,que se suicidou em 1987,mas isso não é certo.Pode ter caido involuntariamente pelas escadas
do prédio onde vivia.Tal como Van Gogh,não se sabe bem como morreu Primo Levi.Tinha formação profissional
como químico,pois era licenciado em Química.Aliás,esse facto pode ter contribuido para a sua salvação de Aus-
chwitz. Primo Levi era judeu e foi preso pelas forças alemãs no dia 13/12/1943,quando era membro da Resistência
italiana. No dia 22/02/1944 partiu da estação de comboios de Capri,com destino a Auschwitz,com mais 650 prisio-
neiros,em 12 vagões,sendo que,no dele,que era pequeno,viajavam 45 pessoas. Levi descreve a viagem no livro.
Após 5 dias de viagem chegaram a Auschwitz,ou,melhor dizendo,a Monowitz,perto de Auschwitz.À chegada,deu-se
a escolha no cais de desembarque.Diz Primo Levi:"os homens válidos,foram reunidos num grupo,O que aconteceu
aos outros,às mulheres,às crianças,aos velhos...a noite engoliu-os,pura e simplesmente.Nos campos de Buna-Monowitz
e Birkenau,só entraram,do nosso comboio,96 homens e 29 mulheres,e todos os outros,num total de 500,nem um se
encontrava vivo dois dias depois."Por vezes,era o acaso quem decidia:entravam para o campo os que desciam de um
lado do comboio;iam para o gás os outros. Buna-Monowitz,fazia parte do complexo de campos de Auschwitz
(existiam 3 campos de concentração principais: 1-Auschwitz; 2-Birkenau-também conhecido como Auschwitz 2 ;
3- Monowitz-também conhecido como Auschwitz 3). O nome de Primo Levi no campo de concentração era o seu
número: o nº 174.517. O campo de Monowitz- a que Primo Levi chama "Lager"-tinha 600 metros de lado,era um
quadrado,cercado por duas redes de arame farpado,sendo a interior percorrida por corrente de alta-tensão.Possuia
60 barracas de madeira para prisioneiros-os chamados "blocks"-para além dos blocks especializados:cozinhas,
duches,latrinas,enfermaria e posto médico,comandantes do campo,escritórios,etc. 
Primo Levi descreve no livro-e descreve muito bem-a vida diária de um prisioneiro de Buna-Monowitz.Não vou aqui,
como é óbvio,dizer o que está no livro,que deve ser lido pelas pessoas.Vou apenas chamar a atenção de alguns
pormenores que me parecem de salientar,abrindo caminho para o interesse em ler "Se Isto É Um Homem".
No dormitório,cada cama,com 70 cm de largura,era para 2 prisioneiros,que dormiam,por regra,"costas contra 
costas",em condições deploráveis. Havia o balde das necessidades-o "Jules"-que tinha sempre que ser vazado
várias vezes por noite.A Praça da Chamada,onde todas as manhãs se fazia a contagem e a divisão para o trabalho
diário.Os rituais a cumprir :fazer a cama;engraxar as socas enlameadas,raspar a roupa das nódoas da lama e,
á noite,o controle dos piolhos,etc. O pão que era distribuido em pequenas quantidades todos os dias,era o bem
mais precioso.Sem ele não era possível viver. Primo Levi aprendeu a sobreviver e,a dada altura,caiu com a carga
que levava ás costas e aleijou-se num pé. Foi 20 dias para a enfermaria-o "Ka-Be"-o que lhe permitiu recuperar
um pouco a saúde e onde teve,pela 1ª vez,uma cama só para ele. O frio era um inimigo terrível.Chegavam a estar
20 graus negativos.De Buna-Monowitz via-se a poente,a torre sineira de Auschwitz("uma torre sineira,aqui!") e,
quando,passado o inverno,chegou o Sol: "Hoje,é um bom dia.Nunca tinham visto o Sol.Se não fosse a fome!".
Primo Levi fala de Lorenzo,o operário italiano que o salvou("creio que devo justamente a Lorenzo o facto de
estar vivo hoje"). O que fez Lorenzo por Primo Levi ? Bem,têm que ler o livro para saber isso. Também conta
a história de vários prisioneiros e a sua estadia no Kommando 98 -o kommando químico- e de como daí passou
para o Laboratório de Quimica,onde passou a ter uma vida de privilegiado,e onde o Director,médico,até lhe
chamava "monsier",apesar do seu aspecto faminto e esquelético.Voltou a adoecer com escarlatina e regressou
à enfermaria-ao "ka-be"- e estava lá quando os russos se aproximaram,em Janeiro de 1945,para a libertação
do campo. Descreve a fuga dos alemães,os bombardeamentos dos russos e,finalmente,a chegada destes e a
libertação. Como é que Primo Levi conseguiu sobreviver a uma provação daquelas ? Um milagre ? Pelo menos,
como ele diz,"não foi uma pequena sorte".
.....................................................................................Para quem quiser saber como era a vida dos
prisioneiros dos campos de concentração nazis,durante a 2ª Guerra Mundial,nomeadamente no complexo de
campos de Auschwitz,na Polónia,a leitura do livro "Se Isto É Um Homem",escrito por Primo Levi,é um
testemunho esclarecedor,escrito pela pena de quem lá esteve e se transformou num dos grandes escritores
italianos do pós-guerra.