NOTA 118 - George Steiner em The New Yorker - de George Steiner

" Uma grande universidade é aquela em que a imprescindível arte da leitura ocupa um lugar central "
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" George Steiner em The New Yorker " é um livro composto por 28 ensaios escritos por George Steiner,
publicado em Portugal em junho de 2010. Estes ensaios foram primitivamente publicados na revista
americana The New Yorker,revista com a qual Steiner colaborou durante 30 anos,entre 1967 e 1997,tendo
escrito mais de 150 artigos.Estes 28 ensaios são,assim,alguns deles.
Quem é GEORGE STEINER ?  Francis George Steiner,nasceu em Paris em abril de 1929,licenciou-se na Universidade
de Chicago,completou o mestrado na Universidade de Harvard e doutorou-se na Universidade de Oxford. Em 1944
adquiriu a nacionalidade americana,embora tenha vivido mais tempo na Europa. Professor nas Universidades de Cambridge,
Oxford,Yale,Stanford e Genebra,entre outras,George Steiner é um dos grandes mestres da crítica literária,e autor de diversos
livros,entre os quais "No Castelo do Barba Azul".
De que tratam os ensaios incluidos neste livro ? Steiner analiza e discorre sobre uma série de personalidades relevantes
da história,muitas delas importantes na área das ciências sociais,nomeadamente da literatura,da linguística e da filosofia.
Vejamos algo do que diz George Steiner sobre alguns desses ilustres personagens e,também,alguns comentários 
pessoais do próprio Steiner.
 
a ) - "O Sacerdote da Traição" dedicado  a Anthony Blunt,é considerado o melhor (e também é o maior) ensaio do livro.
Quem foi Anthony Blunt ? Um ilustre ingês. Sir Anthony Blunt,professor nas universidades de Oxford e Cambridge,titular 
da cátedra de Belas-Artes,era membro da British Academy(1950)e inspector e assessor das pinturas da Rainha Vitória.
Mas,para além dessa actividade como professor universitário e Cavaleiro da Ordem da Rainha Vitória,Anthony Blunt
tinha outra importante ocupação. Era espião. E foi recrutado pelos serviços de espionagem soviéticos,função que
acumulou com a de espião do M15 inglês. Quer dizer,era um agente duplo.
Acabou por ser descoberto,e confessou. Foi-lhe retirado o título de "Sir" e demitiu-se de membro do Trinity College
e da Academia Britânica.
Neste ensaio,George Steiner interroga-se sobre se as grandes obras de arte devem ser de propriedade privada e
responde que,na sua opinião,não devem ser de propriedade privada."Mas não tenho a certeza" - diz Steiner logo a seguir.
Por outro lado,discorre sobre o nacionalismo,e é incisivo nas afirmações que faz."O nacionalismo é o veneno da história
do nosso tempo". E,cita o Doutor Johnson(1),que dizia que "o patriotismo é o último refúgio do canalha".Conclui Steiner  : 
"considero duvidoso que o animal humano alcance sobreviver se não aprender a dispersar fronteiras e passaportes, 
se não fôr capaz de compreender que todos somos hóspedes uns dos outros,do mesmo modo que o somos desta  
Terra contaminada e cheia de cicatrizes."
Mais á frente no livro fala sobre " o vírus do furor étnico e regional que impele os homens a chacinarem os
seus próximos e a reduzirem a cinzas as suas próprias comunidades ".
(1) - Samuel Johnson (1709-1784),conhecido em língua inglesa como "Doutor Johnson",foi um escritor e
pensador inglês com notáveis contribuições para a língua inglesa como poeta,ensaísta,moralista,
biógrafo,crítico literário e lexicógrafo.Possivelmente o "mais distinto homem de letras da história
da Inglaterra." - cfr. Wikipedia.org.
 
b ) - O ensaio "De Profundis" é dedicado  ao escritor russo Alexandre Soljenitzine,autor de "Arquipélago do GULAG",sendo
referido que,"pelo menos 20 milhões de homens,mulheres e crianças foram mortos nas purgas estalinistas."  Soljenitzine 
que nutria um certo desprezo pelo "hedonismo degenerado" e pelo consumismo desenfreado das sociedades ocidentais 
e tinha uma assumida nostalgia pela aura teocrática da Russia ortodoxa.
 
c ) - "Matar o Tempo" é o ensaio dedicado a George Orwell e ao seu livro "1984". 
George Orwell que rebatizou a Terra com o nome de "Pista nº 1" e que defende no livro "1984","recorrendo á paródia", o 
apelo a uma Europa social-democrata,resistente quer ao sistema totalitarista de Estaline,quer á desumanidade dissolvente
de uma hipnose provocada pela tecnocracia e pelos meios de comunicação social,como aquela para a qual os Estados
Unidos pareciam,na opinião de Orwell,estar a dirigir-se.
 
d ) - " Velhos Olhos Cintilantes " é o ensaio dedicado a Bertrand Russel, "o maior inglês vivo " naquele tempo,sendo que
o segundo maior seria Winston Churchill. Isto na opinião de um diário inglês. George Steiner quase concorda:"a presença
de Russel informa a História da inteligência e da sensibilidade europeia entre as décadas de 1850 e 1950 como nenhuma
outra",com excepção talvez de Voltaire.
Bertrand Russel publicou uma obra imensa,cerca de 45 livros,e foi-lhe atribuido o Prémio Nobel da Literatura,em 1950.
Russel foi criado como um aristocrata.Neto de um primeiro-ministro e familiar de distintas figuras militares,diplomáticas
e eclesiásticas. Bertrand Russel dizia que a verdadeira política era a arte de assegurar um lugar adequado aos melhores
e devia afastar a miséria do mundo em geral.Uma certa mesericórdia aristocrática.
 
e ) - O ensaio " Uma Sexta-Feira Má " tem como destinatária Simone Weil," a primeira mulher entre os filósofos ",que
tenta uma combinação que funda a Grécia antiga e a cristologia : as lições de Sócrates e as de Jesus.
E - diz George Steiner - " é um projecto que nada tem de novo.Desde o Evangelho de S.João que semelhante
harmonia,conhecida pelo nome de neoplatonismo,teve quem a defendesse e procurasse na teologia e na metafísica
ocidentais.É com ela que sonham ainda o Renascimento e,mais tarde,os filósofos alemães que se seguiram a Kant.
Talvez faça parte,subconscientemente,da busca e do espanto de todos os que,apanhando uma concha na beira do
infinito oceano (imagem de Coleridge),ouvem no seu mermúrio algo mais do que o eco material do seu próprio sangue." 
 
f ) - " As Línguas do Homem " é o ensaio dedicado ao professor Noam  Chomsky cujas "contribuições para o estudo
da linguagem e dos processos mentais são altamente técnicas e de considerável dificuldade intelectual."
A linguagem humana,é um fenómeno único,"sem analogia significativa no mundo animal". E ninguém desde " o
grande linguísta franco-suiço Saussure,no início do século,e de I.A. Richards,na década de 1930,teve maior impacto
no estudo da linguagem ou fez mais para sugerir que a linguística é realmente uma disciplina central para a compreensão
da mente e do comportamento",embora as concepções de Chomsky sejam criticadas por outros linguistas e hoje "a
vaga chomskiana pode ter começado a recuar."
Diz George Steiner que,actualmente,cerca de quatro mil línguas são usadas no nosso planeta apinhado "sendo o
que resta de um número maior". O que constitui um facto apaixonante,mas também escandaloso. Porquê a
existência de quatro milhares de línguas,ou mais ? Porquê um número de línguas mil vezes maior do que,por
exemplo,o das raças humanas ou dos tipos sanguíneos ? - pergunta Steiner.
E conclui : " a linguística de Noam Chomsky poderia dar conta de um mundo em que todos os homens falassem 
" uma " língua,quando muito diversificada numa série limitada de dialectos.(...) Como os grandes místicos da
linguagem,de Nicolau de Cusa a Jakob Bohme,Chomsky parece muitas vezes convocar a ficção radiosa dessa
língua única falada por Adão e pelos seus filhos,mas que se perdeu para sempre,pulverizada,em Babel."