NOTA 104 - O MILAGRE EUROPEU - de E. L. Jones

1 - O equilibrio de poder impediu a ascensão de impérios monolíticos e restringiu o grau de desperdício causado pelas guerras
entre os estados-nação.O âmago do MILAGRE EUROPEU reside aqui,na política mais do que na economia.O sistema de estados
era um seguro contra a estagnação económica e tecnológica.
2 - PORTUGAL foi o primeiro país leader do empreendimento ultramarino.Os interesses dos portugueses eram:encontrar novos
pesqueiros,comércio de madeira,cereais,açucar,vinha,ouro e especiarias,curiosidade científica,espírito missionário e de cristianização.
3 - O génio do INFANTE D.HENRIQUE encaminhou os esforços dos portugueses para uma progressão sistemática no Atlântico,que
levou a descobrir e povoar grupos de ilhas,partir daí para a costa de África,descer sempre até atingir e dobrar o Cabo (Bartolomeu
Dias) e,já mais rapidamente,subir a costa leste até Melinde e fazer a travessia para Calecute,na Índia (Vasco da Gama).
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"O Milagre Europeu" é um livro escrito pelo Professor britânico/australiano Eric Lionel Jones,nascido a 21/9/1936,doutorado em
História Económica pela Universidade de Oxford,tendo lecionado em várias Universidades como,por exemplo,Northwestern
University(USA),La Trobe University e University of Melbourne(Austrália),Reading(UK),para além de colaborações com Yale,
Manchester,Princeton,Berlin e Munich e também com organizações internacionais,como o Banco Mundial. Autor de numerosos
artigos científicos e vários livros,"O Milagre Europeu" é o que lhe deu mais fama e é o mais notável.(wikipedia/eric jones)
A tese que o Prof. Jones defende é a seguinte: até cerca de 1.400,a Europa Ocidental foi uma região mais atrasada e pobre,face
a outras regiões do Mundo,mais desenvolvidas,como na China,na Índia e no Médio Oriente. A partir de 1.400 e até 1.800
(sécs. XV a XVIII) a situação modificou-se.A Europa Ocidental desenvolveu-se,modernizou-se,industrializou-se,e essas regiões
foram ultrapassadas.A Europa Ocidental passou a ser a região do mundo mais desenvolvida e progressiva e a China,a Índia e o
Médio Oriente tornaram-se regiões "paralizadas",com economias fechadas,que não acompanharam o ritmo de crescimento da 
Europa Ocidental. Porquê ?
O autor fala da importância do ESTADO-NAÇÃO, que foi uma invenção política deste período histórico,dos MERCADOS integrados
na Europa e da vantagem da LOCALIZAÇÃO face ás invasões de outros povos. Por isso,refere-se á importância combinada e
sinérgica do contexto geográfico,do mercado e do Estado.
O atraso da Europa vai da queda do Império Romano até á Idade Média. Mas,a partir daí,a Europa vai tornar-se no 1º continente
a atingir o crescimento económico sustentado. Para isso,contribuiu o facto do poder arbitrário ter sido contido e cerceado; o
importante contributo dos Descobrimentos e das viagens marítimas,o impulso tecnológico dado pela industrialização que,uma vez
iniciada na Grâ-Bretanha,na Bélgica e na região do Reno,depressa se propagou pelo resto do sistema europeu.
O que faltou á Ásia para acompanhar o desenvolvimento da Europa Ocidental ?  Uma ordem internacional e um conjunto de
"estados-nação" comparáveis aos da Europa e um mercado integrado e eficiente. Mas atenção! assinalar os benefícios que os
"estados-nação" trouxeram á Europa em termos de administração e de saúde pública,"não é defender o nacionalismo".
Depois,o autor desenvolve estes e outros temas. Diz que O OCIDENTE tem actualmente uma excelente situação e que é difícil
discutir com quem não veja a difusão da tecnologia europeia e das instituições europeias como "a força dinâmica central dos
tempos modernos". Fala dos Estados Unidos como "o rebento norte-americano da Europa" e afirma que,apesar de tudo,a diferença
entre Oriente e Ocidente era menor do que se pensava. E refere-se ao quebra-cabeças chinês: porque não repetiu a CHINA
Ming ou Qing o notável desempenho do período precedente,o da dinastia Song, e assinala o contraste que havia na ÁSIA entre a
profunda pobreza das massas e o esbanjamento excessivo dos ricos. Fala do "Grande Canal da China" (600 d.C.-construido por
5,5 milhões,com 2 milhões de mortos) e da "Grande Muralha da China" (séc.VII,construida por 1 milhão,com 500 mil mortos) e diz
que a Europa foi povoada a partir da Ásia no 6º milénio a.C. e que a FAMÍLIA nuclear estaria consolidade no 2º milénio antes
de Cristo. Também fala do TERRAMOTO de Lisboa - 60.000 mortos é o número mais citado,incluindo os 10.000 da onda sísmica
que subiu o rio Tejo,mas sem incluir 3.000 mortos em Faro e as vítimas dos incêndios.
Diz que as CRUZADAS podem ser consideradas substitutos de emigração maciça.Houve 5 cruzadas entre 1089 e 1250,a 1ª das
quais foi composta por cerca de 300.000 homens,que percorreram 4.000 km para chegarem á Terra Santa; e que,das três
INVENÇÕES importantes que tiveram origem na China - a bússola,a pólvora e a imprensa - a Europa teve capacidade para as
absorver,adaptar e aperfeiçoar. E que,quando Portugal e Espanha dividiram o Mundo em esferas de influência pelo "Tratado de
Tordesilhas" (7/6/1494),o rei de França ironizou dizendo tratar-se de uma cláusula que não se encontrava no testamento de Adão.
O "repúdio das dívidas" já era praticado na Idade Média e dá como exemplos os reis Filipe,o Belo,de França (1285-1314) e 
Eduardo III,de Inglaterra. Cita um autor para dizer que Os DESCOBRIMENTOS "viraram o mundo do avesso" e que os portugueses
exploraram costas tão distantes da Europa como a de Vitória,na Austrália,fazendo-o secretamente para que não fosse descoberta
a sua entrada na área de influência dos espanhois.
E aborda o velho debate de saber se a RÚSSIA é ou não uma sociedade "europeia" e diz que,do ponto de vista da gestão,há indícios
de que,no séc.XVIII,seguiu um padrão de comportamento "europeu". E também se refere ao MARQUÊS DE POMBAL : Pombal
obteve poderes quase ditatoriais para fazer face ás consequências do terramoto de Lisboa de 1755."Enterrar os mortos e cuidar
dos vivos" foi o conselho que deu ao rei e foi o que este o autorizou a fazer. Os êxitos que obteve reforçaram a sua posição e as
políticas seguintes foram no sentido de modernizar Portugal - remoção de barreiras de cor nas colónias,legislação contra o anti-
-semitismo,reforma do "curriculum" da Universidade de Coimbra e criação de uma Escola de Comércio em Lisboa.O choque do
terramoto,nos sentidos literal e metafórico,foi a origem desta ditadura decisiva para a modernização,mas desagradável sob
outros pontos de vista.
Um resumo do pensamento do autor ?  Em termos de comparações mundiais,para a mudança e a inovação,o mais importante
foi provavelmente o facto dos europeus terem escapado ás garras de uma única ordem político-religiosa,como o confucionismo
de estado na China ,por exemplo.Uma diversidade limitada deu aos europeus algum espírito de unidade e alguma liberdade de
pensamento,apesar da crueldade e dos desperdícios dos conflitos entre cristãos. Foi um resultado preferível ao totalitarismo
religioso ou á exagerada divisão.
............................................................................ "O Milagre Europeu" de E. L. Jones, um excelente livro,escrito por um
ilustre Professor de História económica.