NOTA 101 - OS INTELECTUAIS E O LIBERALISMO - de Raymond Boudon

1 - Os males que as sociedades liberais geram podem dever-se não ao facto de aplicarem os princípios do liberalismo,mas ao facto de deles se afastarem.
2 - A ideia orientadora do liberalismo é garantir a autonomia e o bem-estar do indivíduo.E os objectivos que o norteiam são:respeitar a dignidade de todos;dar a todos oportunidades iguais;garantir a todos direitos iguais;combater eficazmente os efeitos perversos que gera.
3 - Os 3 deveres do "Roteiro de Adam Smith" cuja validade se mantém intacta,são: 1- O dever de proteger a sociedade da violência e das invasões de outras sociedades independentes; 2- O dever de instituir uma exacta administração da justiça; 3- A criação e manutenção de serviços e instituições de interesse geral.
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O "liberalismo" tem sido injustamente tratado pelos intelectuais - diz o Prof. Raymond Boudon. O que quer dizer que há um ideia errada do que é o liberalismo e do que é ser liberal. O liberalismo é um produto da filosofia das luzes e as palavras "liberal" e "liberalismo" têm origem num epíteto,lançado pelo adversário com o objectivo de o desacreditar. No princípio do séc.XIX,os "tories",conservadores ingleses,ironizam sobre os "whigs",progressistas,chamando-lhes "liberais",palavra que vão buscar à política espanhola e que traduz não só a complacência com que os conservadores ingleses de então encaram a Espanha,mas também o carácter utópico que atribuem às ideias de "los liberales".(...) Quanto às ideias que na Europa qualificamos de "liberais",elas são hoje consideradas de direita tanto nos Estados Unidos como na Europa,ao passo que no séc.XIX eram universalmente consideradas de esquerda. Raymond Boudon considera paradoxal que os intelectuais não aceitem bem "uma visão do mundo que trata a dignidade e a autonomia dos indivíduos como valores centrais." Até porque,os liberais não são "hedonistas sem coração". Pelo contrário,não aceitam desigualdades sem justificação funcional,mas sim,igualdade de dignidade entre pessoas e diferenças nos méritos.
Classifica os intelectuais em 3 categorias: a)- produtores de ideias; b)- consumidores de ideias; c)- mediadores de ideias. E diz que o Estado Liberal é um Estado de Direito e o liberalismo concede o homem como "racional". Todos os autores liberais sublinham a importância dos "direitos-de",também chamados "liberdades":liberdade de opinião,liberdade de circulação,etc. e afirma que a invenção da categoria do "universal" é uma particularidade da civilização ocidental:um traço cultural que a caracteriza de forma distintiva. Embora a China ainda não seja um modelo de liberalismo político,os sucessos que alcançou e continua a alcançar em matéria económica devem-se ao facto de se inspirar nos princípios do liberalismo económico.E afirma que o protecionismo exercido pelos Estados Unidos e pela Europa em matéria de agricultura é uma das causas principais da estagnação do "Sul",e a ajuda exterior ou o perdão da dívida externa,nunca conseguiram ser o motor de arranque de nenhuma economia. Congratula-se com o facto de,actualmente,haver um afastamento das teses iliberais e voltar a ganhar espaço uma visão correcta do liberalismo. Como grandes nomes do pensmento liberal,refere,entre outros,Adam Smith,Tocqueville,John Stuart Mill,Karl Popper,F.Hayek;Max Weber,Émile Durkheim,e Thomas Hobbes como primeiro grande teórico clássico do liberalismo.
As igrejas e o liberalismo,a globalização,os efeitos perversos do mercado e da organização liberal,o positivismo e o behaviorismo e o "holismo" de conceitos abrangentes como "a ideologia alemã","a ideologia francesa","a cultura anglo-saxónica","a alma russa","a modernidade","a pós-modernidade",etc.,são alguns de outros temas que o livro aborda.
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"Os Intelectuais e o Liberalismo",de Raymond Boudon,é uma incursão na história das ideias políticas - neste caso,o liberalismo - levada a cabo pela pena de um ilustre professor da Sorbonne. Uma leitura sempre interessante e útil.