NOTA 10 - AUTO-RETRATO DO ESCRITOR ENQUANTO CORREDOR DE FUNDO - de Haruki Murakami

HARUKI MURAKAMI ,o mais célebre escritor japonês vivo,segundo a jornalista Bárbara Reis,nasceu em Quioto,em 1949,estudou
teatro grego,antes de gerir um bar de jazz em Tóquio,entre 1974 e 1981. É autor de diversos romances,publicados em Portugal, entre
os quais "Kafka á Beira Mar","Em Busca do Carneiro Selvagem","After Dark,Os Passageiros da Noite" e "Crónica do Pássaro de Corda".
E é também autor deste livro " Auto-Retrato do Escritor Enquanto Corredor de Fundo "
Haruki Murakami é escritor,e também é maratonista.Já publicou diversos romances de sucesso e também já correu,pelo menos,25 maratonas
e até uma ultra-maratona de 100 km. Fala neste seu livro dessa experiência enquanto corredor de fundo e da ligação que estabelece com a
profissão de escritor,não deixando de falar também da sua actividade como gerente  de um bar de jazz,em Tóquio.
MURAKAMI é mais uma pessoa célebre que gosta de correr e que considera esse desporto cheio de virtudes e qualidades. Flui daquilo que
diz,que a prática da corrida o tem ajudado a ser quem é,a dar-lhe força física e psicológica e a torná-lo melhor pessoa. Diz que " correr sem
parar durante mais de duas décadas contribuiu,além do mais,para me tornar mais forte,tanto no plano físico como no plano intelectual".
E que ,"numa maratona,se a parte da "dureza" da prova é uma realidade incontornável,já no que toca ao aguentar ( ou não ), cabe ao corredor dizer de sua justiça."
Correr implica esforço e sacrifício. E força de vontade. Tal como no trabalho profissional. Escrever um romance - diz Murakami - "para mim,
equivale a escalar uma montanha íngreme,que me obriga a bater-me de frente com a falésia e a só alcançar o cume após ter passado por
uma série de duras e árduas provas corpo a corpo". Para Murakami ,escrever romances e correr uma maratona são coisas muito parecidas.
"Fundamentalmente,um escritor possui uma motivação interior,uma força calma que não precisa de aprovação nem de ser validada através
de critérios exteriores.Por seu lado,a corrida é ao mesmo tempo um exercício e uma metáfora.Através do treino diário e das minhas corridas,
acumulando desafios,consegui elevar a fasquia e chegar mais longe." E refere que o seu ponto culminante enquanto corredor,o atingiu aos
45 anos,quando concluia as maratonas á volta das 3 h 30 m.Mas nunca se considerou um grande corredor."Situo-me num patamar perfeitamente vulgar,para não dizer mediocre".
Murakami viveu durante alguns anos na pequena cidade de Cambridge,perto de Boston,USA,banhada pelo rio Charles,muito conhecido por quem aprecia regatas.E diz que " talvez por ser o berço da Maratona de Boston,Cambridge abriga uma quantidade invulgar de corredores.
As pistas destinadas aos joggers,ao longo do rio,nunca mais acabam,e,quem quiser,pode correr durante horas a fio,se lhe der na gana".
As maratonas de Nova Iorque e de Boston,correu Murakami por diversas vezes. Sempre treinou só. Aliás,define-se como um solitário:
" sou uma pessoa que gosta de fazer as coisas sózinho.Não considero que passar uma hora ou duas por dia a correr,sem trocar palavra com ninguém,e depois,outras quatro ou cinco horas sózinho à minha secretária,seja duro nem aborrecido". Contudo,mais tarde,como casou e como foi gerente de um bar "aprendeu a reconhecer a importância de estar na companhia de mais gente".
Com as corridas,deixou de fumar."Parar de fumar foi uma espécie de gesto simbólico de despedida da vida que até então estava habituado a levar". Diz que a maratona não é desporto para todos.,da mesma forma que nem toda a gente pode ser romancista. Descreve a sua ida á Grécia,e a sua corrida,sózinho ( com o apoio de alguns elementos dentro de uma carrinha ) entre Atenas e Maratona - o percurso inverso ao da Maratona de Atenas.E também descreve a sua participação na ultra-maratona de 100 km,que se realiza todos os anos,no mês de junho,e que tem por cenário as margens do Lago Saroma,na ilha de Hokkaído,e que concluiu em 11 h 42 m.
De vez em quando também experimenta a natação e o triatlo e com este livro quis dar o seu exemplo a todos os leitores,de forma a que se saiba retirar da prática desportiva,os aspectos positivos e saudáveis que,inegávelmente,ela possui. E dedica o seu livro a todos os corredores
com os quais se cruzou até á data " por essas estradas espalhadas pelo mundo fora,a todos aqueles que ultrapassei e que passaram por mim. Se não fosse por todos vós,provavelmente eu não continuaria a correr.".
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