Nota 146 - MAREANTES e GUERREIROS de SESIMBRA dos Sécs. XV,XVI e XVII - de Joaquim Preto Guerra (Rumina)

" A Palestra que ides ler em quinze minutos,representa muitas horas de investigação nas bibliotecas e arquivos,com uma grande vontade de desvendar a função de Sesimbra antiga e seus naturais,nas nossas épocas heróicas,que eu desconhecia,mas que uma voz íntima me segredava ter sido valiosa."

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"Mareantes e Guerreiros de Sesimbra dos Sécs. XV,XVI e XVII",começou por ser um roteiro para uma palestra proferida pelo autor aos microfones da Rádio Renascença,em 1942,antes de ser publicado na Revista da Marinha e editado em folheto. Faz parte,também,do livro,editado em 2006,pela Câmara Municipal de Sesimbra,e que tem como título geral "Estudos Históricos e Outros Escritos". O autor - Joaquim Preto Guerra - o Sr. Rumina ( n. 13-7-1876 , m. 1-1-1962) - investigador sesimbrense,foi odontologista e durante cerca de 50 anos,exerceu a sua profissão,num consultório em Lisboa,a dois passos do Rossio. Durante a 1ª Guerra Mundial foi mobilizado como tenente miliciano,para exercer nos serviços de saúde do Exército,a sua actividade profissional. Mas,como ele diz,devido ao seu grande interesse pela história da sua terra e gentes,em arquivos e bibliotecas,durante muitas horas,adquiriu os conhecimentos que aqui transmite.

 Vejamos então,num pequeno apontamento,algo do que diz  JPGuerra - forma de chamar a atenção para o mesmo e suscitar o interesse pela sua leitura e estudo. A ideia  central deste escrito é,pois,a de mostrar a comparticipação que os sesimbrenses dos sécs. XV,XVI,e XVII,tiveram na expansão do Mundo Português.

Começa o A. por referir que o aparecimento de Sesimbra deveu-se às necessidades da guerra,à defesa de Lisboa. A actividade da pesca só surgiu mais tarde. Foi difícil ao rei D.Sancho I, o Povoador,reter na zona de Sesimbra,então ocupada por densas florestas e matagais,indivíduos para aí viverem e acompanharem a guarnição do Castelo. Mas,mediante regalias,os Francos,lá se foram fixando. No foral de D.Sancho I, de 1201,ainda não se fala de pesca. Só no foral de D.Manuel,em 1514,aparecem as primeiras disposições sobre a pesca,que,nessa altura,já estava industrializada e já tinha dado origem a desavenças entre Sesimbra e Setúbal,por causa do sal para as salgas em Sesimbra.

  Diz o Dr.Rumina que " Os mareantes constituiam a aristocracia de Sesimbra e alguns já eram,de facto,fidalgos. Ter carta de capitão de navios era a aspiração máxima dos sesimbrenses e dava-lhes categoria social muito próxima da fidalgia.(...) Os Pilotos foram os elementos primaciais das descobertas,porque os Capitães-mores eram em geral guerreiros nobres,mas ignorantes em assuntos náuticos e,por isso,sempre na dependência dos pilotos que contribuiram para a sua glória." E "foi no reinado de D.João I que Portugal passou de Nação agrícola e guerreira a Nação de nautas,missionários,aventureiros e mercadores. Pela costa portuguesa,onde as condições o permitiam,estabeleceram-se estaleiros em que se construiram naus e caravelas. Sesimbra,influenciada por esse espírito,chegou  a ter construções navais importantes,o que levou o rei D.Manuel I a expedir  uma "Carta de privilégio para os que na vila de Sesimbra mandem fazer navios" e o rei D.João III outra "Carta para quem fizer navios não pagar dízima das madeiras." 

A Caravela era o tipo de barco preferido dos mareantes de Sesimbra. As caravelas de 3 mastros,usadas pelos caraveleiros do Infante, e as caravelas de 4 mastros,do tipo do alto-mar,usadas por volta do ano 1500. Em 1516 estavam matriculados no Porto de Sesimbra 70 navios,que navegavam também para o norte da Europa. Em 1562,sessenta Capitães e Pilotos de Sesimbra conduziam os seus navios por todos os mares conhecidos. Diz o A. que "Sesimbra foi,como Sagres,escola clássica de navegadores"(1). Em 1634,um sesimbrense - Braz Preto - bateu o "recorde" da velocidade nas carreiras do Brasil,vindo da Baía a Lisboa em 65 dias. Um caso extraordinário naquela época,que Quirino da Fonseca narra no seu livro "Os Portugueses no Mar". 

O autor refere o nome de muitos mareantes e guerreiros de Sesimbra. Vejamos apenas alguns: A- Mareantes - João Gomes Preto,dono e Capitão de 2 caravelas,que em 1488 fizeram parte da expedição mandada em socorro da Graciosa; Manuel Gibaldo,armado cavaleiro em 1568 e que acompanhou ao Brasil o Governador Mem de Sá; Fausto Delgado Preto,em 1578,acompanhou D.Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir; Pedro Preto e o seu filho Francisco Preto,na Índia,em 1578; Diogo Gomes Marinho,Piloto-Mor; Diogo Mendes,piloto e bombardeiro; Romão Ruiz,mestre e piloto das carreiras do Brasil,S.Tomé,Cabo Verde e Angola; Vicente Vidal,piloto nas costas do Zaire e Congo; Celestino Soromenho Soares,piloto nas costas da mina; Pascoal de Carvalho,o "leão dos mares",piloto-mor do Reino; Diogo Neto Farinha,mestre piloto das carreiras de S.Tomé e Mina; João Serrão de Macedo,piloto-mor das Índias; Jerónimo Correia Peixoto,foi como capitão da nau "Guia",em 1619,na armada de D.Francisco de Lima,para a Índia; Sebastião Rodrigues Soromenho,navegador sesimbrense que,durante mais de 20 anos,foi Piloto e Capitão das carreiras da Índia e da China,e que nos anos de 1595 e 1596,navegou  ao longo da costa da Califórnia,tendo feito "o primeiro roteiro objectivo das costas ocidentais dos EUA" e sobre o qual o A. escreve um pequeno apontamento.   

Como heróis das guerras de Restauração,entre outros,refere: Marcos Dias Neto,serviu nas armadas do Reino,Brasil e Índia; João Soromenho de Carvalho,Almirante da frota do Brasil; Bartolomeu Pais de Bolhões,combateu em Angola os holandeses,de 1641 a 1648,ano em que Salvador Correia de Sá libertou Luanda;Manuel Rodrigues de Bolhões,combateu no Brasil; Francisco e João Preto Vogado,combateram os holandeses em Ceilão,onde faleceram;Sebastião Preto Vogado,irmão do Francisco e do João,combateu em Elvas e na baia de Sesimbra,onde subjugou um navio turco,em 1653;Gomes Preto Patela;António Vicente Vieira,piloto das carreiras do Brasil em 1643,quando era muito perigosa a travessia do Atlântico; João Preto Vaz,exímio piloto nos mares da China,em 1645 fazia parte do Conselho da Cidade do Santo Nome de Deus(Macau); Rafael Torres Preto,combateu em Pernambuco,Brasil,contra os holandeses,em 1630; Tomé Botelho Roubão,foi para a Índia e aí armado Cavaleiro,em 1655;(...)

 Terminado o nosso brilhantíssimo período vélico - diz o A. - a navegação portuguesa entrou em decadência. " Vulvano venceu Eolo". Sesimbra viu definhar até ao desaparecimento os seus estaleiros. Os Capitães e Pilotos emigraram ou reformaram-se em armadores de pesca. Os anos gloriosos dos sécs. XV,XVI e XVII,tinham chegado ao fim.

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"Mareantes e Guerreiros de Sesimbra dos Sécs. XV,XVI e XVII",de Joaquim Preto Guerra - uma "palestra" sobre a contribuição de Sesimbra e dos Sesimbrenses,para o período dourado da nossa História - Os Descobrimentos Marítimos. 

(1) - " Durante os Descobrimentos,para os quais a marinharia de Sesimbra concorreu em larga escala..." - diz-se na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira,vol.28,pág.554.